O escritor Mia Couto apelidou a nossa geração, como a “triste geração que virou escrava”, referindo-se ao cumprimento estrito de um apertado horário que invariavelmente começa cedo, se prolonga em tarefas profissionais e se complementa com os incontornáveis trabalhos domésticos, que inevitavelmente se perpetuam para os dias seguintes. Com tudo isto, fica muito pouco tempo disponível para os afazeres verdadeiramente importantes, como o desfrutar da companhia de amigos e família. A consequência mais evidente deste ritmo acelerado e a repetição torturante com que se perpétua, é a chamada resposta de stress crónico.
Não é necessário ter muito dinheiro para quebrar esta rotina de desgaste permanente. O que é preciso é adotar algumas técnicas e inclui-las com regularidade no nosso já apertado horário. Para isso será necessário fazer uma “limpeza” dos momentos desnecessários, que muitas vezes se escondem debaixo da capa do entretenimento. No fundo é sobre isso que se baseia esta plataforma: dar a cada semana, ferramentas simples, práticas e acessíveis, sobre como melhorar a nossa vida. É fácil cair na armadilha de pensar que para aliviar o “stress”, precisamos de férias em locais exóticos, massagens especiais ou um horário menos sobrecarregado, que ainda que seja desejável é muitas vezes uma aspiração irrealista. Crianças, pais e avós, estão cada vez mais escravos do seu próprio tempo e afazeres.
Se não podemos deixar esses afazeres, então como não cair em stress?
Existem cada vez mais trabalhos e artigos médicos sobre este tema. São múltiplas e diversas a técnicas de libertação de stress. Partilho convosco algumas das que mais recomendo nas minhas consultas e que também luto para encaixar na minha própria vida atarefada. São elementos que além de ajudar na prevenção do desgaste, são protetores para a saúde e devem ser adotadas quanto antes. Eu diria mesmo que é prioritário começar a falar sobre elas aos nossos jovens, que fruto do stress de pais e professores, apresentam muitos deles sinais e sintomas de problemas mentais como é o caso das crises de ansiedade ou dos problemas de falta de atenção e hiperatividade.
Esta falta de tempo tem de ser encarada como um desafio. Na verdade não existe uma solução, porque não tem uma cura mágica. Exige uma procura constante do equilíbrio que é naturalmente instável. Para equilibrar este dilema, vivenciando com naturalidade e prazer a rotina (que é protetora) do dia-a-dia, é necessário aplicar entre três a cinco técnicas que são a base da estratégia de combate ao stress. Como já disse anteriormente não precisam de aplicar tudo o que leem. Procurem as que melhor se adequem à vossa vida e características pessoais. Encontrem as que sejam simultaneamente libertadoras, desafiantes e divertidas. Vai ser preciso atenção, criatividade e determinação para ir variando e experimentando coisas novas que vos façam “sair da caixa”.
Acima de tudo é importante que sejam sinceros convosco próprios e que conheçam bem as vossas limitações. Não tracem planos demasiado ambiciosos, porque rapidamente vão cair na armadilha da descrença. Criem uma lista de objetivos e atividades simples e realistas e coloquem-na num local visível. Estar numa aula de meditação ou yoga quando estão a “sofrer” porque queriam estar em casa a jantar com a família só vai trazer mais stress e ansiedade. No entanto é importante saber delegar e criar uma autonomia que nos permita ter, pelo menos semanalmente, um momento de qualidade. Não tenham medo do insucesso. Tudo se vai basear numa tática de tentativa erro: é preciso arriscar e aceitar a mudança persistente para se ter sucesso.
Não se esqueçam: RIR é fundamental para a saúde. Procurem pessoas e atividades que vos divirtam e que façam soltar uma gargalhada.
Alguns exemplos de técnicas de relaxamento/alívio de stress:
Exercício físico e desporto (do qual destaco atividades como a caminhada, yoga, tai Qi, pilates e outras que quando bem executadas têm efeito benéfico sobra a saúde cardiovascular e a postura). A natação, hidroginástica, corrida e tantas outras, desde que adequadas e enquadradas por um profissional competente, são todas válidas e proveitosas quando feitas com equilíbrio.
Meditação, mindfullness, técnicas respiratórias. São cada vez mais as experiências positivas com estas técnicas que estão sempre acessíveis, mas que requerem um compromisso de regularidade e persistência Sobre as técnicas respiratórias, está prometido um post em conjunto com os especialistas da plataforma, Pedro Mendes/yoga e a Rute Caldeira/desenvolvimento espiritual, através das suas meditações e visualizações criativas, para desmistificar e simplificar o seu uso e validade científica. Mas para já desafio-vos a fazer “apenas” isto: respirar fundo e lentamente, tentando visualizar o ar limpo a entrar nos pulmões e depois lentamente a sair. Façam isto cinco minutos de manhã e à noite ou pelo menos antes de deitar.
Atividades altruístas/voluntariado: é mesmo importante para os seres humanos serem úteis a outros. Para todos nós isso deveria acontecer através do nosso trabalho, mas com o ambiente social adverso, em que muitas pessoas não se sentem realizadas nas suas atividades laborais e outra simplesmente não têm emprego, o ideal é procurar essa realização também fora. Acredite que será uma energia bem gasta e recompensadora. Faça voluntariado.
Diário de gratidão: ao final do dia, da semana ou pelo menos uma vez por mês, escreva as coisas pelas quais se sente grato na vida. Passamos o dia rodeados de negativismo e este será um contraponto importante a essa dinâmica derrotista.
Procurar a FUNCIONALIDADE. Este tema também será objeto de um post próprio. A funcionalidade é olhar para além das nossas limitações. É pegar no que temos e voltarmos a ser produtivos e úteis aos nossos próprios olhos. Num mundo repleto de dores e doenças crónicas, a funcionalidade é cada vez mais uma característica importante. Olhar MAIS para o que consigo fazer e menos para o que não consigo.
Existem muitos outros modelos e atividades. Não existe um certo ou errado. Apenas funciona ou não comigo. Lembre-se de gerir o stress de dentro para fora.
Saúde para todos.
Jose Santos
