24 sobre 24 horas

Helena Sampaio Reis // Abril 30, 2020
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A COVID-19 representa um desafio complexo que põe à prova Portugal e o Mundo. De um momento para o outro a maioria das pessoas viu as suas rotinas serem alteradas e, nessa sequência, também a intensificação de determinados sentimentos. O contexto atípico em que se vive pressupõe a partilha do mesmo espaço 24 sobre 24 horas. Importa, assim, parar para refletir e compreender a influência que esta realidade representa nas pessoas e na dinâmica dos casais.  

É normal que as pessoas que nos rodeiam possam estar a reagir de forma diferente, uma vez que as características são distintas e as experiências passadas também. 

“É normal o que estou a sentir nesta quarentena?”

Segundo a Ordem dos Psicólogos Portugueses, é normal e comum sentir:  

  • Angústia por não ter controlo sobre a situação;
  • Incerteza sobre o que vai acontecer e o tempo que vai durar;
  • Frustração e aborrecimento por não realizar as rotinas habituais; 
  • Solidão por estar afastado daqueles que mais gosta e do resto das pessoas;
  • Zanga por estar em isolamento ou até pensar que foi exposto ao vírus devido à negligência de outras pessoas; 
  • Ansiedade e Medo quanto à própria saúde, à das pessoas próximas e à experiência de ter de monitorizar sintomas de doença;
  • Tristeza e falta de esperança, que podem desencadear o desejo de consumir álcool e drogas, alterações de apetite ou dos hábitos de sono;
  • Preocupação com amigos ou familiares, com o facto de ficar afastado do trabalho, as eventuais consequências financeiras e as dificuldades de não poder sair de casa.

É crucial investir na Saúde Mental e criar momentos que proporcionem bem-estar.

Desta forma, importa investir na Saúde Mental para responder com maior eficácia às exigências da atual situação. Para tal, é crucial reservar tempo para si, para relaxar, refletir e criar momentos positivos que favoreçam o próprio bem-estar. Nesta fase é fundamental:  

  • Contactar frequentemente amigos e/ou familiares, recorrendo a chamadas de voz ou vídeo;
  • Praticar um estilo de vida saudável, através da alimentação saudável, períodos de sono e descanso regulados, exercício físico e utilizando, também, técnicas de relaxamento e de respiração diafragmática, que podem prevenir e aliviar stress e sintomas de ansiedade;
  • Realizar atividades prazerosas e do seu agrado, tais como: ler, ouvir música, escrever, assistir a filmes, séries, documentários e telenovelas, investir na culinária ou até visitar museus online;
  • Informar-se junto de fontes de informação credíveis, apenas uma a duas vezes por dia; 
  • Adotar pensamentos positivos e de esperança, lembrando que a atual situação é passageira. Contudo, no caso dos pensamentos negativos e autocríticos afetarem significativamente o bem-estar, é determinante recorrer a apoio profissional;  
  • Procurar apoio profissional, físico e/ou psicológico, deve ser uma opção, seja pelo aparecimento de sintomas ou quando as emoções tornam-se difíceis de gerir, predominam emoções negativas e o funcionamento diário encontra-se comprometido.  

A Saúde Psicológica do casal em tempos de pandemia.

Consequentemente, apesar do afastamento físico impedir uma maior propagação do vírus, obriga à partilha do mesmo espaço, de forma continuada e permanente. Tal facto, representa uma nova realidade para muitos casais, nem sempre fácil de gerir. Os casais são diferentes, as características de cada membro também, bem como a forma de lidar com a atual situação. 

Após questionar alguns casais, anonimamente, foi possível compreender que as maiores dificuldades incidem ao nível da intensificação das emoções e na falta de planos, recursos e atividades para elaborarem em conjunto. Assim sendo, e já com alguma rotina instalada no dia a dia, a transmissão de estratégias práticas é fundamental. Através delas pode ser possível a manutenção ou o aumento do bem-estar do casal. 

Estratégias práticas para os casais:

É crucial parar um pouco para investir na relação, na capacidade de olhar melhor o outro ou até reconhecer e verbalizar as suas qualidades. A concretização de atividades e dinâmicas proporcionam um espaço para momentos positivos e prazerosos, como, por exemplo, ao nível do auto e heteroconhecimento. Importa salientar que cada casal, sendo um casal distinto dos demais, deve sempre optar por aquilo que melhor se enquadre na sua dinâmica. 

Sugerem-se algumas atividades para realizar em conjunto, como por exemplo: karaoke, observar as estrelas, cozinhar algo que gostam, rever álbuns e fotografias, jogos tradicionais (cartas, xadrez, mikado, dominó, bingo, puzzles, palavras cruzadas), planear uma viagem, fazer uma aula de dança, escolher um filme ou série, elaborar uma lista dos pontos fortes da relação, preparar um jantar romântico, fazer/receber uma massagem, entre outras. 

Além das atividades, o guia “COVID-19 e a Saúde Psicológica do Casal”, contém 14 dinâmicas pensadas especificamente para os casais elaborarem, de modo a rentabilizar o tempo em conjunto, fortalecer laços e colmatar algumas das dificuldades sentidas e descritas pelos casais.  

Seguem-se três exemplos dessas dinâmicas:  

  1. “Stop do casal” – com o objetivo de observar qual o membro do casal que conhece o outro, de forma mais rápida, recorrendo ao tradicional jogo do “Stop”, mas de forma adaptada; 
  2. “Descobre a mentira” – que coloca em prova a capacidade de atenção ao longo do tempo. Através da utilização de uma folha de papel, cada membro deverá escrever duas verdades e uma mentira sobre si e, de seguida, ao trocar os papéis, tentarão descobrir qual delas corresponde a uma mentira; 
  3. “Recordar a imitar” – de forma a serem recordados momentos felizes do passado. Cada pessoa deverá relembrar três momentos marcantes e/ou engraçados na história comum do casal. Através do jogo da mímica, terão de reproduzir o momento selecionado, enquanto o outro observa e tenta adivinhar. 

A evolução dos casais assenta na forma como enfrentam e lidam com momentos difíceis da vida a dois.

Portanto, deverá haver um maior foco nos pontos positivos e naquilo que possuem, mais do que nos negativos e naquilo que falta.  

Nota adicional: Num momento em que se pede a todos que permaneçam em casa, não se pode esquecer aqueles que sentem as suas casas como lugares sem segurança e conforto. Tal como acontece com a COVID-19, a Violência Doméstica pode afetar todos, atravessando classes sociais, idades, regiões e provocando diferentes reações nas pessoas.  

No guia pode ainda encontrar informação mais específica sobre a temática, os serviços e contactos disponíveis e, ainda, como agir em casos de necessidade, sendo vítima ou testemunho/a deste tipo de situações. 

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