A ameaça do telemóvel

Fátima Lopes // Janeiro 12, 2023
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telemóvel
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Resolvi escrever sobre este objecto, que todos temos e do qual nenhum de nós prescinde, por estar verdadeiramente preocupada. O telemóvel chegou de mansinho às nossas vidas, teoricamente para podermos fazer e receber chamadas telefónicas em qualquer lado, sem estarmos dependentes de uma rede fixa. Trazia um bónus que era podermos enviar e receber mensagens. Até aqui tudo bem. O que se passou com o andar do tempo é que este aparelho foi ganhando cada vez mais funcionalidades e capacidades, que foram roubando tempo da nossa vida.

Se por um lado conseguimos apurar em segundos, as informações que precisamos e com isto ganhamos tempo em ações, decisões, trabalhos, trajetos e um mundo de outras coisas, por outro, fomo-nos tornando dependentes do telemóvel, até em situações de que não precisamos. E é aí que surge a ameaça. 

Por exemplo, porque é que à mesa do restaurante, quando estamos com a família, os amigos ou o namorado, temos de guardar lugar também para o telemóvel? Se repararem, é raro encontrar num restaurante, elementos a uma mesa, que não estejam ao telefone. Às vezes são mesas de 10 pessoas e as 10 estão ao telefone. Pergunto então, porque vieram jantar juntas? O melhor era terem ficado em casa, a jantar apenas com os seus. No mínimo, poupavam dinheiro. 

Jantares românticos com as duas pessoas ao telefone, simplesmente a fazer scroll e a bisbilhotar as redes sociais, também é uma moda. De novo, pergunto: porque é que foram jantar fora? Se a ideia era jantar a dois, assumam que jantaram a três. 

É que enquanto se está entretido com o telefone, não conversamos com o outro, não partilhamos o que sentimos ou pensamos, nem damos hipótese ao outro de o fazer. 

O esperar sem fazer nada é hoje algo absolutamente inadmissível. Enquanto se  está na fila do supermercado, aproveita-se para mergulhar no telefone, mesmo sem objetivo algum. Enquanto se vai passear o cão, passa-se o tempo todo de olhos em baixo, deixando de interagir com ele e fazendo daqueles minutos, apenas o cumprir de uma tarefa sem qualquer emoção ou afetividade. O mesmo se passa quando se leva os filhos ao parque e em vez de os observar nas suas novas conquistas, opta-se por ficar a navegar no telefone, esquecendo-se que o tempo não volta para trás e os filhos não voltarão a ser pequenos. Muitas vezes ouvimos as crianças desesperadas, a chamar pelos pais: “Olha aqui!! Olha!!! Mãe!!! Pai!!”

A minha esperança é que aquilo que vejo fora de casa, não aconteça dentro de casa. 

Que estas pessoas tenham a capacidade de deixar os telefones na entrada da casa, em silêncio e os espreitem só quando os miúdos já estão na cama, para terem direito a um tempo só deles e dos pais. E no caso dos casais, não deixarem que o telemóvel ocupe em casa o tempo da conversa, da partilha, do ouvir e sentir o outro. 

Eu sou bastante chata com este tema. Em minha casa não há telemóveis à mesa nem onde estamos a fazer a refeição, para não sermos incomodados. Se estamos a ver um filme ou a fazer uma actividade juntos, estamos a ver um filme ou a fazer essa atividade. Ponto. Não há telefones pelo meio. Recuso-me a conversar enquanto fazem uso do telefone. Se estou a falar, gosto que olhem para mim e assegurem que me estão a ouvir. 

O telemóvel tornou-se uma adição. 

Em muitas famílias o telemóvel é uma adição e afetou brutalmente a capacidade de comunicarem e fazerem coisas juntas. Se isto não é uma ameaça à forma como nos relacionarmos e vivemos, então é o quê?

Nota: Fotografia por Verónica Silva 

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