Cólicas: O “Bicho Papão”

Ângela Baptista // Abril 24, 2019
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Não será exagerado dizer que 9 em cada 10 das famílias que acompanho apresentam a determinada altura uma queixa comum: as cólicas.

Os momentos iniciais da vida familiar com um bebé são momentos de stress, de adaptações… o bebé está a aprender, mas os pais também! Será que são mesmo cólicas? Garanto-vos que nem tudo são cólicas, mas hoje vou dedicar toda a atenção a esta problemática. Afinal o que é isto das cólicas?

Mas afinal o que são as cólicas?

Não é uma preocupação de agora. Já se aborda este assunto desde há muito tempo, havendo definição para cólica desde 1954. A possibilidade de múltiplas causas, bem como alguma dificuldade em identificar e isolar uma só, faz com que seja um tema com múltiplas abordagens e grandes controvérsias.

A cólica surge desde o nascimento (principalmente a partir das duas semanas), mas com um pico às seis semanas de vida, desaparecendo na grande maioria dos casos aos quatro meses.

Caracteriza-se por agitação e choro intenso, predominantemente ao fim do dia, com uma duração média de, pelo menos, três horas por dia, mais de três dias por semana, durante pelo menos uma semana, num bebé saudável. Acontece frequentemente após uma refeição. Muitas vezes, este quadro é acompanhado de:

  • Choro intenso, vigoroso e gritado;
  • Flexão dos membros inferiores;
  • Abdómen distendido;
  • Rubor facial;
  • Punhos fechados;
  • Emissão de gases.

Mas… porquê existem as cólicas?

São várias as causas apontadas para este mal-estar. A ajuda de um profissional especializado é necessária, pois ajudará a família a conseguir identificar as várias causas que estão na etiologia da cólica no caso particular do seu bebé.

Podemos distinguir dois grupos de causas para as cólicas: biológicos e psicossociais. Entre as causas biológicas:

  • Imaturidade intestinal é uma das mais destacadas. De facto, o intestino do bebé não apresenta ainda movimentos peristálticos coordenados (movimentos “ondulatórios”), existindo por isso alguma descoordenação na dilatação e contração dos segmentos do intestino, o que causa dor e acumulação de ar;
  • Deglutição de ar em excesso;
  • Regurgitação;
  • Intolerância à lactose;
  • Excesso de consumo de nicotina na gestação e durante a amamentação;
  • Sistema nervoso imaturo, que assoberbado de estímulos, culminará em episódios de ansiedade extremo.

As causas psicossociais são:

  • Acumular de tensões e estímulos ao longo do dia;
  • Diminuição da atenção ao bebé no final do dia, quase inconsciente por parte dos pais, coincidente com o período de necessidade de tarefas diárias, como a preparação do jantar;
  • Ansiedade gerada pelo ambiente envolvente e transmitida ao bebé é muito influente no mal-estar da cólica. O intestino é o órgão mais associado a recepção de estímulos nervosos e de ansiedade; quem não sabe o que é uma “dor de barriga” antes de um momento decisivo? No bebé não é exceção. Se nos concentrarmos na quantidade de estímulos novos que o bebé recebe desde o momento do parto, facilmente compreendemos a possibilidade imensa de acumular tensões.

Como se podem controlar as cólicas?

Existem algumas causas que são passíveis de algum controlo por parte dos cuidadores. Destaco:

  • Controlo da quantidade ingerida durante a alimentação, seja por biberão, seja à mama (garantir que o bebé faz uma “boa pega” é muito, muito importante);
  • Manter o nariz do bebé o mais desobstruído possível (através da lavagem com soro fisiológico) irá contribuir para a diminuição de entrada de ar pela boca e consequente acumulação de ar;
  • Facilitar o arrotar, permitindo que o bebé liberte o ar acumulado;
  • Garantir o máximo de conforto e calma para o bebé.

E perante a cólica… que soluções?

Acima de tudo quero que se lembrem que o bebé precisa de sentir conforto e proteção. Aqui, o colo, o mimo, o embalo são as melhores “estratégias”.

A utilização da suplementação com probióticos e prebióticos (tema para um próximo artigo) tem sido relacionada com a redução da sintomatologia das cólicas infantis, no entanto, devem ser sugeridos por profissionais e associados a outros cuidados.

Dos casos que tenho acompanhado, a massagem infantil, especial protocolo da cólica, é o tratamento determinante na redução da cólica.

A massagem infantil por si só, oferece múltiplas vantagens do contacto pele a pele mas, neste caso concreto, a aplicação do protocolo de massagem para a cólica, permite a eliminação de grande quantidade do ar acumulado no intestino. Convido-vos a articular com outras famílias que tiveram esta experiência, bem como uma consulta individualizada sobre a cólica.

Estou por aqui!

Fontes bibliográficas: Brazelton TB. O grande livro da criança. Lisboa: Presença, 1995; Carey WB. Colic-primary excessive crying an infant-environment interaction. Pediatr Clin North Am 1984; 31: 993-1005; Parker S. Colic. In: Parker S, Zuckerman B, eds Behavioral and Developmental pediatrics. Boston, Little Brown and Company 1995:101-5. Cohen-Silver J, Ratnapalan S. Management of infantile colic: a review. Clin Pediatr. 2009;48(1):14-7. Colic and crying: self-care. MedlinePlus [Internet]. 2015 [updated 2015 Jul 10; cited 2015 Aug 31]. Available from: https://medlineplus.gov/ency/patientinstructions/000753.htm

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