Comer aquilo que a terra nos dá

Rui Catalão e Maria Antunes // Julho 10, 2019
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Longe vai o tempo em que as crianças cresciam em contacto com a terra. Para as da cidade, isso acontecia pelo menos na Páscoa, no Verão ou no Natal. Quantas vezes não ouvimos alguém dizer “vou com a família à terra”? Para as restantes, essa era simplesmente a realidade do dia-a-dia. Com o tempo, a ligação quebrou-se e hoje são cada vez menos as crianças que chegam a adultas a saber de onde vêm os alimentos que comem, como são produzidos e em que épocas é suposto serem cultivados e colhidos.

Contra nós próprios falamos. Nascemos e crescemos na cidade, com pouco contacto com o campo. Durante muitos anos vivemos pura e simplesmente alheados da simbiose entre o Homem e a natureza. Até que sentimos a necessidade de lutar contra isso.

Hoje fazemos da nossa vida a defesa de uma alimentação mais consciente, saudável e sustentável. Queremos sensibilizar as pessoas à nossa volta para a necessidade de recuperar a ligação à terra, de conhecer melhor os alimentos que lhes chegam à mesa e de tomar decisões que sejam mais benéficas não só para a sua saúde, mas também para a do planeta e de todos os outros seres que o habitam.

Privilegiar o que é local, sazonal e biológico

Falamos de estar em sintonia com a sazonalidade, de aceitar que há uma época para o tomate (que está agora a começar e vai até lá para Novembro) e que há uma janela de oportunidade muito curta para comer (e eventualmente conservar) frutos vermelhos. À primeira vista pode parecer difícil contrariar a abundância com que nos deparamos num supermercado, onde é Primavera, Verão, Outono e Inverno ao mesmo tempo durante todo o ano. Com o tempo, tudo se torna mais natural. Não há nada como um tomate em pleno Verão ou um dióspiro ao cair do Outono – é nessas alturas que atingem o seu pico de sabor. Ao seguir a sazonalidade, aprendemos a dar valor a cada um destes alimentos e a ter a paciência de esperar por eles.

Falamos também de optar por produtos locais, cultivados próximos de nós, por agricultores conscientes, que se regem pelos princípios da agricultura biológica. São estes os alimentos que têm uma pegada de carbono mais baixa. Como? O processo de produção é menos danoso para o ambiente e os produtos chegam-nos mais depressa (com maior valor nutricional e mais sabor), percorrendo menos quilómetros.

A importância de evitar o desperdício

É com base nestes princípios que temos traçado o nosso percurso. A eles juntamos-lhe ainda uma preocupação muito vincada em lutar contra o desperdício. E, é por isso que em breve vamos abrir o primeiro restaurante sem caixote do lixo de Portugal, em Lisboa. Tudo o que passar pela nossa porta terá um de três destinos: será 1) comido, 2) reaproveitado de alguma forma ou 3) transformado em composto. Este composto será devolvido aos agricultores que nos fornecem vegetais e fruta, fechando assim o círculo e devolvendo à natureza tudo aquilo que ela nos dá.

E, porque é que é tão importante combater o desperdício?

Um terço de toda a comida produzida no mundo acaba no lixo – um número verdadeiramente assustador e que dá que pensar. Em muitos casos, este desperdício acontece por negligência, desconhecimento ou má gestão. Queremos dar o exemplo nesta área, mostrando que é possível trabalhar sem um caixote do lixo e inspirando todos os que se cruzam connosco a fazer o mesmo em casa, no seu dia-a-dia. 

Propomos um regresso ao passado

A solução está à frente dos olhos de todos nós, mas a maioria opta por ignorá-la. No fundo, o que propomos é até um regresso ao passado. Na geração dos nossos avós vivia-se assim, aproveitando ao máximo cada ingrediente e consumindo produtos locais e sazonais, pois não se conheciam as facilidades e a abundância de hoje.

No limite, tudo se resume a uma verdade talvez difícil de aceitar: o lixo é uma invenção do Homem. Sem ele, nada se perde, tudo se transforma. É preciso mudar esse paradigma e tornar a intervenção humana no planeta algo mais positivo. 

Nós já abraçámos este desafio. E, tu? Aceitas juntar-te a nós?

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