Como atravessar com coragem os momentos de crise?

Sílvia Dias // Fevereiro 6, 2023
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A vida também é feita de crises, “mudanças de pele”, por vezes bastante dolorosas, que nos fazem parar, olhar e colocar tudo em perspectiva na nossa vida. Um divórcio, uma doença, um desemprego, uma morte, algo que mexe verdadeiramente connosco e que parece abanar com toda a estrutura que construímos num fazer constante inquestionável.

Eu já não sei quem sou.”

“Eu não me reconheço.” 

“Eu consegui supostamente tudo, mas não me sinto feliz.”

“Eu sinto-me vazia/o.”    

Estas são expressões frequentemente ouvidas por quem atravessa um momento de crise pessoal e não sabe, naquele momento, onde se agarrar, porque já não reconhece nada que lhe faça sentido.

Estas crises podem ser vividas individualmente e/ou em casal, apenas substituíramos o “eu”, pelo “nós”.

Algo se perdeu no caminho do “Ter” e o que ficou sacrificado foi a ligação com a alma. A sensação de vazio surge e permanece, e entra-se numa verdadeira aridez espiritual.

Atravessar uma crise é atravessar um deserto, sem se saber onde se está e para onde caminhar; é caminhar sozinha num caminho escuro, repleto de nevoeiro, com apenas a luz suficiente para se dar o próximo passo.

Atravessar uma crise é, por vezes, profundamente doloroso e desconfortável, pois nunca sabemos quanto tempo vai durar e nem conhecemos o caminho para sair. E quanto mais pressa temos em sair dessa crise, mais a Vida nos pede para render e confiar.

Costumo dizer que, em adolescentes, quando tínhamos um desgosto de amor íamos para casa, chorávamos sozinhas e ainda ouvíamos músicas o mais tristes possíveis e chorávamos ainda mais. Depois de algum tempo de fazer isto vinha um alívio e uma serenidade, e mais tarde abríamo-nos novamente para amar. Não sabíamos, mas a alma sabia que só escavando ainda mais fundo, permitindo-nos sentir o que havia para sentir, poderíamos atravessar e encontrar a saída, sem nela pensar.

Uma vez por ano, as serpentes mudam de pele. Nessa mudança de pele, há um momento em que a pele velha cai, ainda a nova não nasceu e a serpente fica em carne viva, profundamente vulnerável, sem saber quando a pele nova vai surgir.

Atravessar uma crise é passar por uma mudança de pele. E isto, por vezes, é um processo profundamente doloroso que nos obriga a conectar com as dores, os medos e as feridas mais profundas dentro de nós mesmas.

E enquanto a pele não nasce, só nos resta rendermo-nos e confiar que a pele há de nascer. 

É um reaprender a “Ser”, a silenciar vozes que nos dizem que temos de “Fazer” e escutar atentamente a nossa voz interna do nosso coração. E para “Ser” é preciso ter coragem e sacro-ofício (trabalho sagrado).

É voltar ao húmus (à humildade), às raízes e recuperar a ligação que se perdeu. E para isso vamos ter de dizer não a muita coisa e cortar com velhas formas, que há tanto tempo nos habituámos e pensámos que eram nossas. 

Atravessar, com coragem, momentos de crise é caminhar numa noite escura, e apesar do medo, da falta de controlo e da incerteza, continuar a caminhar, confiando que é através desse mesmo caminhar que um dia se vá encontrar.

Contudo, por mais que se tente explicar como se pode atravessar momentos de crise, com coragem, nunca a vivência pessoal e de cada pessoa vai caber em palavras, por serem tão redutoras para uma dimensão que é vivida pela alma.

Nestas travessias da alma, a psicoterapia pode ajudar. Um espaço sagrado, confidencial, sem julgamento, de partilha e escuta, onde a pessoa se entrega, de forma honesta e segura, a um mergulho profundo de reflexão e crescimento, em direção a si. Um caminho de compromisso, feito de olhares, tons e sentidos que leva à essência de quem se É. Um encontro vivencial de silêncio profundo onde respiramos a humanidade e a vulnerabilidade, e onde mergulhamos para dentro, abraçando e aceitando o que há e o que vem. 

Com crises todos nós nos deparamos. Atravessá-las com coragem, dizendo “Sim” à travessia, isso é só mesmo para determinados heróis e heroínas, que escolhem sem saber, travar a maior batalha de sempre, a que é travada dentro de nós, connosco mesmos e esta não é uma batalha para cobardes.

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