Como cultivar a esperança?

Cláudia Morais // Janeiro 14, 2021
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cultivar a esperança
cultivar a esperança

Nunca como hoje vivemos tempos de tanta incerteza. No meio de uma pandemia cujos efeitos estamos longe de poder prever com exatidão, que importância tem a esperança? Como podemos alimentá-la?

Todos os dias converso com alguém que partilha comigo as suas dúvidas em relação ao futuro. Há quem não tenha a certeza se vai conseguir manter o emprego, há quem tenha muitas dúvidas sobre a possibilidade de manter o próprio negócio, há quem tenha acabado de fazer um exame médico e esteja dependente do resultado, há quem tenha apostado tudo num casamento que não sabe se terá futuro. Apesar de estas dificuldades serem comuns a muitas pessoas, há diferenças substanciais na forma como cada uma gere as dúvidas e a incerteza. Um simples olhar superficial sobre as pessoas à nossa volta permite-nos perceber que há pessoas que sentem mais esperança no futuro do que outras. Um olhar mais atento permite-nos constatar que, de uma maneira geral, as pessoas que têm mais esperança sentem-se mais felizes. Mas, mais importante do que isso, a Psicologia tem-nos mostrado que a esperança é determinante para a ação: quanto maior for a nossa esperança no futuro, maior é a probabilidade de nos comprometermos com os comportamentos que podem, de facto, melhorar o nosso futuro. Há diversos estudos que nos mostram que cultivar a esperança é uma forma poderosa de nos aproximarmos dos nossos objetivos.

Esperança vs Otimismo

A esperança pode confundir-se com otimismo, mas são conceitos diferentes. Embora as pessoas que cultivam a esperança tendam a ser mais otimistas, estes são conceitos diferentes. O otimismo é a crença de que coisas boas acontecerão no futuro. A esperança é a tendência para acreditar que é possível alcançar determinados objetivos e que isso depende da forma como planeamos e agimos.

10 Dicas para cultivar a esperança:

1. Reconheça que, na prática, há sempre esperança. 

Essa é a realidade. Há sempre esperança. Mesmo nos cenários mais catastróficos, como no caso de diagnóstico de uma doença terminal, é importante cultivar a esperança. A verdade é que nem os maiores especialistas numa determinada área podem fazer previsões exatas sobre a evolução de uma doença. Há – e continuarão a existir – muitos exemplos de doentes que desafiaram todas as probabilidades e estatísticas.

Quando nos sentimos desesperançados, de uma maneira geral, isso é fruto de alguma forma de distorção da realidade, nomeadamente, do facto de tirarmos conclusões precipitadas a partir de algumas informações.

Não me interprete mal: às vezes, a realidade é, de facto, muito dura e é dificílimo ter esperança em dias melhores. Mas a investigação mostra-nos que quando cultivamos a esperança é mais provável que desafiemos as estatísticas e que sejamos bem-sucedidos no cumprimento dos nossos objetivos.

2. Rodeie-se de pessoas inspiradoras. 

Ouça os seus podcasts favoritos, leia entrevistas de pessoas lutadoras, converse com pessoas que superaram as mais diversas adversidades. Repare na forma como esses testemunhos o(a) fazem sentir, repare no impacto que têm sobre a forma como olha para a sua própria situação. Escusado será dizer que há pessoas que têm o “condão” de nos puxar para baixo e de fazerem com que nos sintamos desesperançados. São aquelas que identificam um problema para cada solução…

3. Cuide das suas relações significativas. 

Não é segredo para ninguém que uma rede de suporte é essencial ao nosso bem-estar e à nossa estabilidade emocional. Hoje também sabemos que a inexistência de uma rede de apoio pode levar ao isolamento, desesperança e à falta de motivação. Pelo contrário, um indivíduo com uma rede de apoio sólida é mais capaz de imaginar alternativas positivas perante uma situação difícil e de identificar os caminhos necessários para lá chegar.

4. Defina metas concretas. 

As pessoas que cultivam a esperança não se limitam a desejar um futuro melhor, elas imaginam e agem. Reconhecem que o futuro depende muito das escolhas que fizerem. Também reconhecem que o seu percurso incluirá erros e obstáculos, mas isso não as paralisa. Elas adaptam-se progressivamente à realidade, refazem os seus planos as vezes que forem necessárias e não baixam os braços.

5. Divida o seu problema em pequenas partes. 

Lembre-se de que, passito a passito, é possível aproximar-se gradualmente dos seus objetivos. Quando o objetivo está distante, é importante assumir o controlo daquilo que você pode controlar. Por exemplo, se está desempregado e passa muito tempo sozinho(a), fazer a cama, vestir-se diariamente e sair para praticar exercício físico ajudá-lo(a)-ão a sentir confiança e controlo sobre o seu bem-estar. Lembre-se da perseverança de Nelson Mandela. O antigo presidente da África do Sul e vencedor do Prémio Nobel da Paz esteve preso durante 27 anos!

6. Aproveite a incerteza! 

A incerteza oferece muitas possibilidades. É claro que há um conforto e uma segurança que resultam do facto de sabermos com o que podemos contar. Mas o facto de não sabermos como será o futuro implica que também haja a possibilidade de as coisas correrem bem. Por exemplo, alguns empresários tiraram partido das mudanças que chegaram com a pandemia reinventando os seus negócios e adaptando-se às novas necessidades dos seus clientes. Na saúde, o facto de não sabermos muito sobre uma doença também pode dar-nos esperança de que haja algumas escolhas que possamos fazer para contrariar as previsões mais pessimistas.

7. Preste atenção à sua atenção. 

Aonde tem pousado a sua atenção? Já reparou que as pessoas mais otimistas e esperançosas não gastam muito tempo a ruminar sobre os problemas ou a ter conversas negativas? Isso não significa que elas desvalorizem os obstáculos ou que ignorem as dificuldades! Elas simplesmente escolhem não gastar todo o seu tempo e a sua atenção em informações e conversas emocionalmente desgastantes. Se reparar, dar-se-á conta de que desabafar sobre os seus problemas pode ser positivo, desde que não escolha mergulhar durante horas no seu próprio queixume. Procure pousar a sua atenção em informações e conversas geradoras de alegria, aprendizagem e conexão com os outros – mesmo que isso o(a) desvie momentaneamente dos seus problemas.

8. Olhe para os factos. 

A esperança é proporcional à confiança nos factos. Por exemplo, a investigação mostra que quanto mais amparados nos sentirmos, maior é a probabilidade de conseguirmos resistir às adversidades e implementar as mudanças de que precisamos. A História mostra que as pessoas que se uniram em nome de determinadas lutas, não só cultivaram juntas a esperança por um futuro melhor, como foram bem-sucedidas. Repare no recente movimento #metoo. Foi a esperança de um conjunto de homens e mulheres que tinham sido vítimas de abusos que permitiu que uma verdadeira revolução acontecesse a um nível mundial.

Cultivar a esperança também implica que olhemos para os factos, quer da História, quer da nossa própria vida, e que usemos esses factos para elaborarmos os nossos planos, os nossos caminhos e as nossas ações. Olhe para trás, para as outras lutas por que passou. Que competências revelou nesses momentos? Identifique os seus recursos internos e comprometa-se a colocá-los em ação várias vezes por semana.

9. Comprometa-se. 

Reconheça que nenhuma mudança significativa acontecerá a não ser que você se comprometa. Em primeiro lugar, consigo mesmo(a). Mas isso valer-lhe-á de muito pouco se não for capaz de se comprometer “publicamente”. Verbalize o seu objetivo em voz alta junto de pessoas que o(a) lembrem recorrentemente da sua luta e dos seus recursos.

10. Cultive a esperança nos outros. 

No meio das suas dificuldades, será que é possível encontrar tempo, energia e disponibilidade para ajudar alguém? No meio da pandemia, foram amplamente noticiados relatos de pessoas que tomaram a iniciativa de ajudar os vizinhos mais idosos com as compras de supermercado ou idas à farmácia. Também houve um conjunto de voluntários que se uniram para fazer face à fome que invadiu diversas famílias de trabalhadores da área da cultura. Muitos desses voluntários eram trabalhadores da área que estavam parados e sem qualquer fonte de rendimento. Há quase sempre formas de continuarmos a ajudar as pessoas à nossa volta. A investigação mostra-nos que quando ajudamos os outros a enfrentar as suas dificuldades e lhes oferecemos alguma esperança, lembramo-nos da força que a esperança tem e motivamo-nos para perseguir as nossas próprias metas.

Quase todas as pessoas estão a enfrentar alguma forma de incerteza neste preciso momento. E todas podem beneficiar de doses consideráveis de esperança. Quando nos descentramos do nosso umbigo, da prisão dos nossos pensamentos mais catastróficos, é mais provável que sintamos esperança e que a consigamos propagar.

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