Era uma vez o Amor...

Cristina Felizardo // Fevereiro 18, 2019
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Já alguma vez tiveste a sensação de que o cosmos se andava a divertir contigo, sobretudo, quando te tornou a grande piada do universo ao transformar-te no número ímpar?

Sabes o que é ser o número ímpar?

É quando vais a jantares com amigos, quando vais ao cinema, ou quando partilhas boleias no carro e tu fazes sempre com que a mesa seja para cinco pessoas, acabas por responder que é só um bilhete quando percebes que o olhar do empregado do cinema está, discretamente, a sondar as pessoas que estão ao teu lado para perceber se estás acompanhada por algum dos senhores que se encontra no grupo ao teu lado, ocupas sempre o lugar do meio no assento de trás do carro dos teus amigos. Sim, é verdade. O Um é o número ímpar mais solitário de todos. Mesa para um, bilhete para um, lugar para um… Mas, conta-me? O que te aconteceu?

Como ficaste presa no número um?

Se eu tivesse que adivinhar, diria que foi esse teu coração que andou numa busca incessante pelo homem dos teus sonhos, o príncipe encantado dos tempos modernos. Sim! Aquele ser perfeito, com “six pack”, alto e espadaúdo, estiloso, de cabelo suficientemente despenteado e um sorriso branco-brilhante.

Mas não era só físico, este Sr. Perfeito, nada disso. Também era inteligente, interessante, com sentido de humor. Era carinhoso com a tua mãe, nunca se esquecia de lhe levar um ramo de flores ao domingo quando lá iam almoçar a casa dos teus pais. Ao teu pai, levava uma garrafa de vinho sempre diferente, para depois passarem o tempo da refeição a degustar e a discutir quais as melhores castas. Mas o toque de mestre, aquele que te fez derreter toda e suspirar como uma princesa, foi quando ele se virou para a tua irmã e disse para ela acabar a sua refeição tranquilamente que ele ia mudar a fralda ao teu sobrinho. Aí disseste a ti mesma: “Mulher, calhou-te a sorte grande!”

Não imaginavas momento mais feliz, senão aquele em que percorrias o caminho até ao altar, envergando o teu lindo (e gigante) vestido de noiva, com uma cauda que deveria ter pelo menos três metros, em direção ao homem dos teus sonhos quando ouves uma voz a perguntar: “Menina, está à espera de mais alguém ou quer pedir já?” E bum!!!

Reality check: de volta à realidade. Olhas à tua volta, estás na esplanada junto ao mar, onde gostas de ir ao domingo de manhã e tens à tua frente a empregada de mesa com um ar particularmente irritado, que aguarda impacientemente que te despaches a pedir o teu café e o habitual pastel de nata com canela. “Não, não vem mais ninguém!”, respondes tu e assim que o dizes em voz alta, sentes o teu coração a partir-se em mil pedaços. Ainda não o tinhas dito em voz alta.

Tudo bem que ele acabou por se revelar um traste.

Ainda bem que viste isso antes que fosse tarde demais. Antes que percorresses a nave da igreja envergando o teu gigante vestido branco. O teu pai bem tinha razão em desconfiar dele. Tanta conversa fiada sobre castas disto e daquilo. Claro! Ele, o Sr. Perfeito, era um bon vivant que passava a vida em jantaradas e festas. Trabalhar, está quieto. E depois, os seus papás ainda financiavam a mesada de um homem feito, já nos meados dos trinta, que chegava a meio do mês e já tinha gasto o seu ordenado em roupa, ginásio e restaurantes.

Já tinhas achado estranho quando ele te quis preparar um jantar romântico em tua casa, tendo enviado no dia anterior, a lista de compras de supermercado que tu tinhas de fazer. Depois, não achaste piada quando ele te ligou na sexta feira às oito da noite para irem jantar fora e quando chegas ao restaurante, és tu, ele, mais o gangue dos peitos inchados, viciados em óleo de coco e barras de proteína. Mas a gota d’água foi quando ele passou a noite a fazer-se à tua amiga Rita. “Uau!!! Como é que me enganei tanto”, pensas tu! Não, minha querida! Não é isto. Não é ele, o homem dos teus sonhos.

O teu coração enganou-se outra vez. Se calhar está mesmo estragado. Ou então és tu que tens um problema, dizes tu aos teus botões. E acabas a noite, sentada sozinha, no sofá da tua sala, a ver pela trigésima vez “O Diário de Bridget Jones” que está a dar no canal Hollywood (ah! outra gargalhada que o universo está a ter às tuas custas! Sim! Sim! Já percebeste a piada cósmica… tu e a Bridget Jones bem que podiam ser gémeas siamesas!) enquanto devoras o balde de gelado de chocolate com molho de frutos vermelhos da Häagen-Dazs. Sim. Estás a curtir a tua fossa, a sentir pena de ti mesma, a pensar que vais voltar aos ímpares, mas ainda assim podes fazê-lo com gelado gourmet.

Depois lá vem a publicidade das jóias e dos perfumes. OMG! Está a chegar aquele mês. Sim. Aquele mês em que as montras das lojas se vestem de vermelho-paixão, os filmes em cartaz no cinema contam-nos as histórias mais românticas e por todo o lado os suspiros apaixonados revelam faces ruborizadas de jovens enamorados. É aquele mês em que é impossível ignorar o Amor. Mas também é aquele mês em que é possível odiá-lo.

Para onde quer que olhasses, lá estava ele. O Amor! Tipo querubim, de cabelo com caracóis dourados, a pairar por aqui e acolá, com as suas asinhas ridículas, a disparar setas em todas as direções e a transformar os pares mais improváveis, em casais do ano. E tu? Tu continuavas sem a porra de uma seta espetada no rabo…

Inevitavelmente, a pergunta surge: “Voltarei a encontrar o Amor?”

Não tens resposta para te dar. E nem pensas perguntar ao teu coração. Ele está fechado para balanço, depois de tanta asneira feita. Então procuras nos livros, nos especialistas, nos entendidos, nos outros.

Encontras um livro que te diz que o Amor é facilmente entendido como uma vontade de estabelecermos laços afetivos, com o propósito da vinculação, ou seja, para nos garantir a segurança física, psíquica e emocional. Os entendidos dizem-te isto! Boa! Não percebeste uma palavra. Quer dizer, sim, está bem escrito e parece muito científico, mas como aplicas isso na tua vida? Então procuras respostas nos outros, aqueles que construíram laços. Aqueles que os perderam. E os que teimaram em reconstruir. Procuras conselhos nos que não desistiram do Amor. E escutas o que eles te dizem…

Dizem que é respeito e lealdade. Dizem que é cuidar para ser cuidado. Dizem que é dedicação e paciência. Dizem que é conforto e harmonia. Dizem que é compromisso e companheirismo. Dizem que é amizade e confiança. Dizem que é intimidade e partilhas na conversa de almofada. Dizem que é uma ação constante de conquistar o outro e não o ter como garantido. Dizem que é uma ação constante de ser conquistado. Dizem que é encontrar segurança noutra pessoa. Dizem que é encontrar uma fortaleza no abraço do outro. Dizem que é liberdade. Finalmente, dizem-te que não és feliz até encontrares o teu amor.

Bom… parece-me um bocadinho duro, ficares sujeita a este mau karma, não te parece? Bolas, não mereces isso. Sim, ok, fizeste algumas escolhas erradas. Mas se calhar tinhas de as fazer, para saberes o que queres, para saberes quem queres que te acompanhe até ao fim da tua vida. Essencialmente, para saberes quem és tu, afinal.

Então, agora sim. Estás pronta para o que eu tenho para te dizer.

Digo-te que serás sempre feliz se conseguires ver os milhares de milhões de amores que te rodeiam todos os dias, em todos os momentos. Digo-te que enquanto não te amares a ti, estarás para sempre cega ao Amor. Sei, não digo, simplesmente sei, que enquanto não estiveres feliz contigo, em paz contigo, em equilíbrio contigo, enquanto não estiveres a viver a tua felicidade, não darás o real valor aos amores que te mantêm viva.

Tenho a certeza que enquanto não aprenderes a manter uma relação contigo mesma, não estarás pronta para receber mais ninguém na tua vida.

Ama-te primeiro. Acredita que depois, estarás pronta para amar… o homem dos teus sonhos.

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