Estar presente

Cristina Felizardo // Dezembro 19, 2019
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Não preciso de ti aqui!

Preciso que estejas lá… comigo!

Empatheia, formado por en-, “em”, mais pathos, “emoção, sentimento”.

Ei ei ei! Podes parar já aí! Sim! Tu, que estás aí a revirar os olhos. Sim, tu mesma. Pensas que não te estou a ver?! Oh, podes crer que te vejo. E sei perfeitamente o que esse revirar de olhos significa: ‘Oh não! Lá vem aquela com os sermões de Natal, sobre o amar o próximo e ser melhor pessoa, e escolher o amor em vez do ódio, e reciclar o plástico, e etc., e etc., e etc.’ Sim! É verdade! E normalmente diria que sim a isso tudo que acabaste de desbobinar, mas hoje não. Hoje só te quero falar do melhor presente que podes dar neste Natal. Do presente que não implica a correria ao centro comercial, nem de tempo interminável em filas, nem embrulhos difíceis, nem arrombos no cartão de crédito. Do presente que és tu. Dá de ti, ao outro.

A empatia!

Sim, a empatia. Meu Deus!, pára de resmungar. Sim, pronto, é um bocado de sermão. Mas, vê isto mais como uma mensagem, uma reflexão, se quiseres. Para além disso, se eu já tive de ouvir a Mariah cantar “O que quero para o Natal és tu!”, cinquenta e quatro vezes só nas últimas quarenta e oito horas, pois o meu filho descobriu no youtube a playlist das melhores canções de Natal, então, também tu, podes sentar-te aí cinco minutos e ler-me. Pensa nisto como sendo o teu exercício de empatia do dia.

Muito bem, onde íamos:

Empatia, no caminho de…

A melhor definição de empatia que conheci até hoje foi-me dada por uma senhora que conheci nos corredores do hospital: “Experimenta calçar os meus sapatos!”, disse-me ela a relatar a conversa que tinha tido com a cunhada no dia anterior. Não foi preciso ir à origem etimológica da palavra, nem pesquisar a definição dada por filósofos como Auguste Comte, ou por psicólogos como Carl Rogers. Bastaram as palavras simples de uma senhora que queria ser respeitada na sua dor. ‘A dor é minha! Mas podes andar um pouco com os meus sapatos para perceberes como é percorrer este caminho!’

E já sei o que vais dizer: ‘Mas eu sinto empatia!’ Ou então: ‘Mas eu emociono-me com o outro’. Ótimo. Sentes e emocionas-te. Ei, onde vais? Podes voltar a sentar-te! Não, ainda não acabámos. Sabes? É que empatia não é nem emoção nem sentimento.

Não, não é uma emoção. As emoções são mecanismos adaptativos. Não, não é um sentimento. Esses são interpretações subjetivas. É uma habilidade socioemocional. Sim! Leste bem. Uma habilidade. Algo na qual te podes aperfeiçoar através da prática, exercitando o músculo empático, descentrando-te do teu ego e perspetivando a realidade através dos olhos do outro. Livre de preconceito, livre de julgamento, vais tentar compreender o que o outro sente, perceber o que o levou a sentir assim. Como o podes fazer? Praticando o altruísmo: realizando ações que beneficiam os outros. É, portanto, um exercício de humildade que te descentra dos teus ‘achismos’, sabes, aqueles que guardas no teu umbigo. É, também, um exercício de bondade que te leva a cuidar de alguém. É, sobretudo, um exercício de disponibilidade para estares lá, com o outro. São, na verdade, um conjunto de ações que vão despertar a humanidade dentro de ti.

Desperta a humanidade que há dentro de ti.

Deixa-me adivinhar: sentiste o despertar da humanidade há três lojas atrás, quando deixaste aquela senhora levar a última echarpe que estava com um preço fenomenal, certo?! Errado. Pára com isso, não foste altruísta, só não foste rápida o suficiente. Não, isto é outra coisa.

És humilde quando vês que podes aprender com outras histórias de vida, com experiências alheias. Repara, se por acaso uma amiga vem conversar contigo para te contar algo ou desabafar sobre algo e pouco depois devolves a conversa com uma história tua, com uma partilha tua, com um desabafo teu, então não estás a ser humilde. Estás a ser egocentrada: a tua história é a melhor, ou a mais espetacular, ou então, a mais sofrida, a que tem maior dor. Em todo o caso, tu és a maior.

És bondosa quando dás de ti, sem pensar em ti. Quando os teus atos servem para beneficiar outra pessoa. A história da echarpe a desconto reduzido não é bondade, pois não?! Parece-me mais um aproveitamento de um acaso para valorização do ego. Ou seja, aproveitaste o contexto para “ficar bem na fotografia”. Não tiveste de fazer nada, não houve uma ação da tua parte. Pensa sempre que para ser um ato de bondade, tens de sentir o esforço da tarefa. Senão, não é.

És disponível quando perspetivas outros caminhos para além do teu. Quando te propões a caminhar nos sapatos de outra pessoa, para perceber o que ela está a sentir e por que razão fez as escolhas que fez, então estás disposta a deixar de lado as tuas verdades absolutas, as tuas opiniões inabaláveis e os teus valores estruturais, para estares lá com ela. Não estás por ela. Estás com ela. Qual é a diferença? Se estás por ela, continuas tu no centro da questão. Levas a tua bagagem, que é a tua segurança, e vais cheia de teorias e conselhos sobre como ela deve fazer. Se estás com ela, não levas mais nada para além de ti e dos teus ouvidos e do teu abraço. O caminho a ser percorrido é dela e tu apenas estás ali, disponível para ouvir quando ela precisar de falar, para abraçar quando ela precisar de ser confortada, com a certeza de que esse caminho não é o teu, mas que o sentes em cada passo dado. Uma dica? Se começares a frase com “Eu sei o que estás a sentir!”, então a probabilidade é que não estás lá com ela. Repara, quem é o principal sujeito na frase que acabaste de dizer? Tu! E de quem é a história? Dela.

Não és especialista da vida dessa pessoa. Então sê humilde e ouve o que ela tem para te dizer. Sê bondosa e dá do teu tempo e energia. Sê disponível e diz apenas: “Não sei o que estás a sentir, mas podes contar comigo, estou aqui!”

Estar presente! Que seja esta a melhor prenda que vais oferecer este Natal.

Vai lá! Vou-te deixar em paz. Tenho de ir continuar a ouvir a Mariah e tu, espero que continues os exercícios deste músculo da empatia que te tornam no ser humano maravilhoso que sei que és.

Boas Festas e Cfeliz

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