A sociedade tem uma série de ideias feitas e, às vezes, preconceituosas sobre aquilo que deve ser a vida de cada um. Há muitos “é suposto” quando se pensa nas vidas dos outros. E estes “é suposto” existem para todas as idades. No caso das mulheres, sinto que há um especial peso em relação a alguns objetivos, que “é suposto” as mulheres cumprirem. Se não o fizerem, é como se tivessem um defeito qualquer de fabrico. A questão da maternidade é um desses “é suposto”.
“É suposto” que a mulher em idade fértil seja mãe. Mais cedo, mais tarde, uma vez, muitas vezes, mas tem obrigatoriamente de ser mãe. Quando não é mãe, muitas vezes é olhada de lado.
Há uma certa dificuldade em aceitar que nem todas as mulheres são mães.
O que temos de nos lembrar, é que algumas mulheres não são mães porque, efetivamente, não têm esse desejo, nem sentem esse apelo. E está tudo bem. Se nós fossemos todos iguais, nascíamos numa fábrica e a verdade é que não nascemos. Nascemos de pessoas e não há duas pessoas iguais. Logo, não querermos todos o mesmo, é só normal.
As mulheres que não querem ser mães, não querem ser mães e ponto final.
Contudo, existe um grande número de mulheres, e infelizmente, cada vez maior, como indicam os números associados à infertilidade, que deseja mais que tudo na vida ser mãe e que ainda não o conseguiu.
Quando a gravidez não acontece…
Mulheres que às vezes têm problemas de saúde que bloqueiam essa possibilidade, outras vezes não se entende, em termos físicos, qual a origem, mas a verdade é que a gravidez não acontece. Outra possibilidade a ser considerada, é o companheiro ter um problema qualquer, porque a infertilidade masculina também é uma realidade. As mulheres que ainda não conseguiram ser mães, continuam a ter de suportar aquela pergunta tão simples, mas tão dolorosa que é: “Então, e quando é que tens um bebé?”.
“Quando é que tens um bebé?”
Esta, que pode ser uma pergunta inocente, magoa muito estas mulheres que querem ser mães e ainda não o foram. Elas sentem que estão a falhar, que são de menos, que não conseguem concretizar uma coisa que à partida é simples, mas que no caso delas não acontece. Por isso, não ser mãe representa um peso enorme para estas mulheres.
O peso da maternidade
Digo isto porque, não só já ouvi o testemunho de muitas mulheres com as quais não tinha qualquer tipo de ligação, mas também já ouvi o testemunho de algumas mulheres com as quais tenho uma ligação próxima. E cada vez que falam e se manifestam sobre a idade a passar e este sonho que ainda não se concretizou, fazem-no com muita dor e sofrimento. Porque, além do desejo que elas próprias têm, a sociedade também as faz sentir que estão a falhar, que estão em falta. Eu gostava muito que quando a maternidade não acontece, não se pusesse peso nisso.
A maternidade é a experiência mais bonita que se pode viver na vida. É a experiência mais rica e desafiante. Ela é isso tudo e, por isso mesmo, não se pode fazer sentir a alguém que ainda não foi mãe, que é uma pessoa de menos.
Nota: Fotografia por Verónica Silva