Menina, Mulher, Mãe

Tânia Correia // Dezembro 20, 2020
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Encontrarmos o equilíbrio entre os nossos 3m’s – a Menina, a Mulher e a Mãe – é um dos grandes desafios desta vida. Em primeiro lugar, existe uma Menina que permanece em nós, da qual podemos passar anos a fugir, mas que com a entrada no mundo da maternidade se torna visível, com todas as suas feridas. Há também uma Mulher da qual nos despedimos antes do parto, e que embora guardemos fragmentos seus, surgem novas zonas para explorar e tantas outras para redescobrir. Por fim, nasce uma Mãe que, tal como o bebé, precisará de tempo de espaço e para aprender e crescer, sem pressões, comparações, culpabilizações.

O livro “Menina, Mulher, Mãe” conduz cada leitora numa viagem por estas suas zonas, os seus 3m’s. Explorando-as, ligando-as, explicando os efeitos da sua interacção e dessa forma promovendo a consciência de si – do que se pensa, do que se sente e de como essa combinação se traduz em acções. Isto é, permite a construção de um mapa pessoal.

A Menina

Vivermos desconectadas da Menina que permanece em nós tem uma data limite – o momento em que nos tornamos mães. A relação com os nossos filhos abre a porta para a projecção dos nossos pais em nós e da menina que permanece em nós nos nossos filhos. Nalguns momentos é como se estivéssemos a reviver partes da nossa história num cenário diferente (o presente), experienciamos a carga emocional da altura quando repetimos padrões daquilo que vivemos no papel da criança, reabrindo-se feridas.

Embora algumas mulheres cheguem até à consulta de acompanhamento psicológico com dificuldades que surgiram no período da maternidade, o que as leva a crer que é neste papel que residem os seus problemas, a verdade é que o “centro de comandos” está no primeiro M – a Menina que quer ser vista, escutada, aceite, acarinhada, ver as suas feridas curadas; é nesta reconexão que tantas vezes residem as respostas.

Quando passamos a conhecer os pensamentos que, directa ou indirectamente, nos foram incutidos ao longo da nossa história, as emoções que deles resultam com frequência, e de que forma estas duas componentes condicionam os nossos comportamentos, conquistamos o poder da liberdade de sermos quem desejamos, não quem a nossa história nos tornou.

A Mulher

Ainda que a generalidade das mulheres não seja alertada sobre isto, existe uma Mulher da qual nos precisamos de despedir antes do parto. Tal não significa que essa mulher desapareça, existem aspectos seus que perdurarão, contudo iremos reparar em muitos outros em que nos sentimos diferentes, em que perspectivamos a mesma situação de um novo ângulo, prioridades que se alteram, e importa poder assumi-lo para que este processo se torne mais leve e construtivo.

Existe uma mulher que se irá redescobrir – a si e aos seus propósitos – individualmente, enquanto companheira, amiga, familiar, trabalhadora. O que menos se gostava poderá passar a soar apelativo, assim como aquilo que mais nos absorvia perderá o encanto.

Importa que as mulheres compreendam que não existe um caminho definido, nem um ritmo certo para percorrer este caminho de redescoberta. São tantos papéis, tantos contextos, tantas mudanças físicas e psicológicas, que naturalmente existem ajustes a fazer, quer em nós, quer na forma como protagonizamos determinadas funções e vivemos diversas relações.

Por último, a libertação da culpa por uma mãe cuidar de si enquanto mulher é fundamental. Tal como na aviação em que em caso de emergência as indicações são as de os adultos colocarem as máscaras de oxigénio primeiro para que se mantenham conscientes e dessa forma consigam prestar os melhores cuidados às crianças, é necessário que as mães acolham a ideia de que cuidarem da mulher que continuam a ser, dando-lhe espaço para que também exista, é também uma demonstração de amor pelos filhos, uma vez que estão a assegurar que estes irão receber a melhor versão de si.

A Mãe

A maternidade traz um luto que precisa de ser feito – o luto do (ainda que pouco) controlo que sentíamos deter sobre nós e sobre a nossa vida. Há um corpo, algo que sempre nos acompanhou e pertenceu, que se altera, que durante meses (por vezes anos) passa a funcionar de forma diferente e que, por isso, deixamos de controlar; a satisfação das nossas necessidades mais básicas, desde o momento em que nos vamos alimentar ou tomar um simples banho, por vezes parece deixar de depender de nós; o nosso parto, o bebé, a mãe em quem nos tornamos, tantos aspectos podem diferir daquilo que idealizámos e colocar em causa o controlo que pensávamos ter.

No caminho para o equilíbrio nasce a necessidade de abrirmos mão do controlo. Ao abrirmos mão do controlo estamos a abrir o coração à experiência. Estamos a canalizar os nossos recursos para nos adaptarmos à nova realidade, em vez de vivermos diariamente a frustração de tentarmos que esta se adapte a nós.

Por último, existem tantas fontes de culpa na maternidade que importa desmistificá-las, reforçar os direitos das mães como resposta a algumas delas, validar (aceitar e normalizar) diversas preocupações, tornar as mães merecedoras de carinho todos os dias, até nos menos bons, simplesmente por estarem a dar o seu melhor.

Como encontrar o equilíbrio entre a Menina, a Mulher e a Mãe que existe em nós?

Dando colo à Menina que permanece em nós, acolhendo a Mulher que se redescobre e abraçando a Mãe que nasce, encontraremos o equilíbrio entre os nossos 3m’s. 

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