Em tempo de Outono a paisagem muda, sendo muito vulgar associarmos a chegada desta estação à nostalgia, ao cair das folhas, à solidão, ao silêncio, às primeiras chuvas e ao tempo cinzento. É um tempo que nos inspira à meditação, à viagem interior e ao despertar das emoções impulsionadas pela aparente letargia outonal e, muitas das vezes, indutora da necessidade do aconchego de um abraço.
Lá fora, aparentemente, a vida na floresta adormece.
Contudo, o Outono é muito mais do que isso! A maioria dos seres vivos que habita na floresta vive intensamente esta época. Para muitas das aves é um tempo de longas viagens, de partida para África e de chegada do Norte da Europa, e para muitos animais é um tempo de preparação para a renovação das suas populações. Espécies como o veado ou o javali, iniciam rituais de acasalamento ou namoro pré-nupcial, garantindo a sua própria descendência e até a sustentabilidade de muitas espécies protegidas, como é o caso do Lobo ibérico.
O Outono é renovação e é futuro
Os frutos de diversas espécies arbóreas começam a cair, formando um manto abundante de alimento. A castanha e a bolota, além de todos os restantes frutos carnudos, conhecidos pelo nome de “bagas”, disponibilizam uma vital fonte de alimento e energia para todos os habitantes da floresta. Aos nossos pés surge uma grande variedade de cogumelos, uns comestíveis e outros nem por isso. Além da típica coloração outonal da folhagem, a floresta fica também pintalgada, entre muitos outros, com a cor e brilho dos medronhos, dos pilritos, dos frutos da aroeira e da murta, ou da oliveira brava.
Em Portugal, cerca de 150 espécies de plantas frutificam nesta estação do ano, constituindo a base alimentar de muita da fauna, nomeadamente a avifauna migradora e residente. Estas espécies vão permitir a dispersão das sementes na natureza através dos seus dejetos, dando origem a novas plantas e auxiliando a regeneração de todo o ecossistema florestal.
O espaço oculto que nos envolve
Muitas vezes, toda esta riqueza ou lição de vida passa lá fora, longe dos nossos sentidos entorpecidos na natureza artificial que ocorre nos centros urbanos. Apesar de cada vez mais se valorizar a floresta e o seu contributo para o bem-estar humano e a sustentabilidade do planeta, são poucos os que verdadeiramente a sabem sentir e usufruir.
O Outono é uma época ímpar para esta reflexão. De cada vez que visitar um espaço florestal entregue-se ao momento, observando com todos os sentidos o que a floresta lhe sussurra. Feche os olhos, ouça os sons e os silêncios, fique inebriado com os aromas outonais, abrace com o coração uma árvore, sinta o seu pulsar e, olhando à sua volta, sinta-se uma parte desse espaço. Só assim conseguirá “tratar por tu” a floresta, e só desta forma irá sentir a sua energia, o seu aconchego e a sua proteção. Com esta imersão na floresta sentimo-nos parte de um todo muito mais vasto e transcendente mas, simultaneamente, muito mais reconfortante e compensador.
O ser humano por vezes esquece-se que faz parte do planeta e, como tal, é um elemento integrante da própria floresta. Esta só constitui um elemento estranho a quem não a habita, desconhece e não a sabe respeitar e sentir.
Como podemos então garantir a preservação das nossas florestas se não as conhecemos de facto?
É importante adotar uma nova sensibilidade, respeito e atitude de humildade inteligente para que a floresta nos retribua a riqueza de toda a sua multifuncionalidade, seja ela material, económica, social ou até, e não menos importante, mental e emocional.
Aproveitemos então o Outono para procurar um entendimento mais substantivo da floresta e refletir em torno da sua importância no equilíbrio e sustentabilidade de cada um de nós como parte integrante de um mundo cada vez mais frenético, carente e impessoal.
Assim, saibamos aprender e adotar no nosso quotidiano, na interação que temos com os demais, os princípios da inclusão, união, entreajuda, tolerância, generosidade e resiliência que a floresta representa e nos ensina.
Nota: Fotografia por Verónica Silva
