Picante - Um sabor do Mundo que é bom e faz bem!

Daniela Ricardo // Janeiro 16, 2020
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Quando se fala de comida picante somos quase sempre transportados para paragens longínquas. No meu caso, por fazer tantas viagens pelo mundo com a Zen Family, vou directamente para oriente. A minha mente viaja de imediato para o Nepal, Butão e Índia, embora a comida picante seja apanágio de outros destinos como México, Tailândia e vários países africanos.

Nós por cá temos muitas vezes a ideia que o picante aquece, o que não é de todo mentira, uma vez que a sensação de ardor nos faz sentir muitas vezes como um dragão a cuspir fogo e a transpirar. A verdade é que se observarmos com um pouco mais de atenção, percebemos que o picante é usado na maioria das vezes em países nos quais o calor se faz sentir de uma forma bem mais intensa do que aqui em Portugal.

Sabia que  o picante ajuda a resistir ao calor e ajuda o corpo a resistir a muitas doenças?

Uma das coisas que percebi em viagem é que o picante ajuda a resistir ao calor e ajuda o corpo a resistir a muitas doenças. No Nepal corre a história que o povo Tharu (um grupo étnico indígena que vivia nas bases montanhosas do sul dos Himalaias) é conhecido por ser naturalmente imune à malária que afectou esta área de rios, lagos e selva luxuriante, que é Chitwan. A população circundante ainda hoje atribui essa façanha à alimentação do povo Tharu, que sempre foi dominada por um sabor intenso a picante, acompanhado por aguardente de arroz. Mais tarde verificou-se que esta resistência pode ser causada por uma alteração genética deste grupo étnico, mas a verdade é que este tipo de alimentação também ajudou.

Os alimentos picantes têm imensas propriedades.

Por causarem dor, isto é uma dor ligeira associada à ardência provocada, a sua ingestão faz com que o nosso cérebro produza endorfinas que combatem a dor (pela acção analgésica) e nos proporcionam prazer. Nuno Crato, no seu livro “Passeio Aleatória pela Ciência do dia a dia”, refere até que o tempero picante é quase um sedativo, mas um sedativo benigno.

Em doses normais, a pimenta ou o picante, além da libertação de endorfinas e da acção analgésica, têm efeitos tónicos e antissépticos, estimula os sistemas circulatório e digestivo, e aumenta a transpiração. Da minha observação, esta propriedade antisséptica pode ser uma explicação para que em tantas zonas cujas condições de vida não são as desejáveis, não existam assim tantas doenças.

Está comprovado que a alimentação picante pode ajudar a prolongar a esperança média de vida, ajudando a reduzir a probabilidade de contrair algumas doenças e a tratar de outras. Os principais benefícios derivam da capsaicina, componente presente principalmente na malagueta e pimenta caiena.

Quais são os benefícios do picante para a nossa saúde?

Além de aumentar a temperatura do corpo e nos fazer transpirar, o picante também traz outros benefícios para a saúde, como:

  1. Ajuda a perder peso devido ao seu efeito termogénico e consequente aceleramento do metabolismo;
  2. Previne e ajuda a tratar doenças cardiovasculares, uma vez que que os componentes picantes ajudam a aumentar o fluxo sanguíneo;
  3. A capsaicina tem efeito antioxidante, antimicrobiano, anti-inflamatório e previne o cancro;
  4. Melhora a aparência da pele, pois a transpiração abre e limpa os poros;
  5. Ajuda a tratar a artrite e fibromialgia através da ação anti-inflamatória e analgésica;
  6. Previne gripes e constipações devido às propriedades antimicrobianas e antivirais.

O uso do picante em diferentes países

O picante é usado em todo o mundo, e em Portugal, África e Brasil, desde que o Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para a Índia e trouxe esta especiaria, que começou a ser cultivada por todo o mundo, deixando de estar apenas na mesa dos mais abastados.

Um outro país que usa e abusa do picante é o Butão. De todas as viagens que já fiz pelo mundo, talvez este seja o local onde o seu consumo é mais intenso. Até mais do que na Tailândia, onde tive a minha primeira experiência de “dragão”, e do que a Índia!

Tudo no Butão leva picante. Malagueta em doses avultadas e todos adoram este tempero, que começam a ingerir desde muito pequenos. É muito engraçado ver que muitos de nós ficamos com o ardor característicos desta substância, vermelhos e transpirar e que os butaneses passam imunes a este efeito, que causa muitos momentos de diversão tanto para nós como para eles.

Receitas picantes:

Ficam aqui duas receitas, uma do Butão e outra da Tailândia, que podem encontrar nos meus livros “Sabores do Viajante” (já vencedor em Portugal com o 1.º prémio do Gourmand Award na Categoria Heath & Food) e “Viagens da Comida Saudável”, respectivamente, para assinalar este Dia Internacional da Comida Picante.

Espero que gostem. Bom proveito e boas viagens!

. Ema Datse

(Chillis e queijo)

Ema Datse é o prato mais popular entre os Butaneses. Ema significa chilli ou malagueta no Butão, pelo que já se pode adivinhar o quão picante é este prato, que acompanha todas as suas refeições. Como prefiro não usar lácteos, para pode fazer esta receita usei Tofuti em fatias (“queijo de tofu”) ou em alternativa queijo de tremoço. Já existem muitas alternativas vegetais no mercado. Usem a que mais gostarem.

Ingredientes:

  • 6 malaguetas compridas vermelhas;
  • 1 pimento verde;
  • 1 cebola;
  • 1 chávena de chá de água;
  • ½ chávena de chá de queijo vegetal;
  • 1 pitada de sal marinho;
  • 2 colheres de sopa de azeite.

Preparação:

Comece por lavar e cortar as malaguetas ao meio, no sentido do comprimento. Corte em tirinhas o pimento e a cebola. Cozinhe todos estes ingredientes (as malaguetas, o pimento e as cebolas) com a água, durante 3 minutos. Acrescente o azeite e deixe cozinhar até as malaguetas ficarem macias, sem tapar. Agora é só acrescentar o queijo vegetal e o sal, mexer bem para misturar tudo e servir. Fica maravilhoso com arroz ou com as panquecas de trigo-sarraceno.

Dica: Para reduzir um pouco o picante, retire as sementes das suas malaguetas.

. Tom Yum

É, provavelmente, a mais famosa das sopas tailandesas – saborosa, picante, amarga e perfumada. A minha primeira Tom Yum foi a versão confeccionada com camarões. Estava mesmo picante, bem ao estilo thai. Esta receita está adaptada ao meu gosto, no que se refere ao picante. Podem doseá-lo e adaptá-lo ao vosso paladar.

Ingredientes:

  • 1 cebola roxa, cortada meias luas finas;
  • 2 talos de coentro com as folhas;
  • 2 talos de erva príncipe;
  • 4 fatias finas de gengibre;
  • 100 gramas de cogumelos cortados em quartos;
  • rebentos de alfafa q.b.;
  • 1 colher de sopa de pimentão doce;
  • 1 colher de sopa de shoyu;
  • 1 colher de chá de geleia de arroz;
  • 1 pitada de sal de sal;
  • 4 folhas de limoeiro;
  • 2 malaguetas, cortadas ao meio;
  • 400 ml de água;
  • 2 colheres de sopa de sumo de limão.

Preparação:

Numa panela, aqueça a água com o pimentão doce. Quando levantar fervura adicione a cebola, os coentros, o gengibre e a erva príncipe, e deixe ferver dois minutos. Acrescente os cogumelos e deixe cozinhar por mais dois minutos.

Tempere com o shoyu, sal se necessário, a geleia de arroz, as malaguetas e as folhas de limoeiro. Deixe cozinhar mais um minuto. Tempere com o sumo de limão e sirva imediatamente com os rebentos de alfafa.

Dica: para fazer uma Tom Yum Goong – sopa tailandesa com camarões – acrescente ao preparado camarões crus descascados na altura em adicionar os cogumelos. Dois camarões por pessoa são a conta certa. Neste caso, não coloque os rebentos de alfafa, fica mais apelativo visualmente.

Atreve-te a ser diferente!

Vive consciente!

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