Pós-parto: como retomar a vida sexual?

Joana Lima Silva // Dezembro 12, 2021
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O nascimento de um filho acarreta muitas alterações na dinâmica do casal, e a sua intimidade e vida sexual não são excepção. Ainda que muitas vezes seja (erradamente!) considerada uma questão secundária, a sexualidade é essencial para a nossa saúde e bem-estar. Física, psicológica e emocionalmente, o contexto vivido pela mulher no período pós-parto não é favorável à sexualidade. Por isso, é importante que o casal conheça o que é expectável acontecer, e como fazer para que esta fase das suas vidas seja apenas uma passagem para um “final feliz”.

A mudança nas rotinas, o cansaço que se vai acumulando entre fraldas, leite e noites mal dormidas, juntamente com as alterações corporais da mulher, que se considera menos sensual e desejável, dão início a uma receita perfeita para uma vida sexual insatisfatória. Se juntarmos a isto as alterações hormonais próprias desta fase, que têm efeito negativo no desejo sexual e na lubrificação, percebemos facilmente que são inúmeros os potenciais obstáculos que os casais podem ter de ultrapassar para se reencontrarem sexualmente.

É fundamental o casal ter momentos de intimidade (com maior ou menor cariz sexual!), momentos só seus e independentes do novo elemento da família. Fomentar ainda mais a comunicação, manter os planos e os sonhos em comum, saber o que o outro está a sentir e a pensar em relação à situação. 

A recente mãe “não tem vontade”, o recente pai “não procura” a intimidade ou, se o faz, não vê frequentemente o seu desejo correspondido, criando frustração e desencontro no casal. Se deixarmos esta situação repetir-se e protelar-se, temos o ambiente propício ao afastamento e à crise conjugal. Mas, não precisa de ser assim! 

O casal tem de encarar este período como transitório, mantendo a união necessária para ultrapassá-lo em conjunto e reforçado, não permitindo negligenciar a sua sexualidade.

“Fui mãe recentemente. Quando posso retomar a vida sexual?”

Todas as mulheres, independentemente do tipo de parto, passam por alterações corporais que condicionam a sua resposta sexual. Depois de um parto vaginal, principalmente quando existem cicatrizes perineais (decorrentes da correcção de lacerações ou episiotomia), a mulher pode ter desconforto e dor com a penetração vaginal, comprometendo assim o prazer e a excitação. Por outro lado, as mulheres que tiveram um parto por cesariana, estão em recuperação de uma cirurgia abdominal. Geralmente, para ambas as situações, é recomendado que se espere entre quatro a seis semanas para retomar a actividade sexual, embora esta não seja uma recomendação rígida – cada mulher é única e tem o seu tempo de recuperação.

A amamentação condiciona também alterações importantes na resposta sexual feminina. A hormona associada à amamentação – prolactina – tem um efeito negativo no desejo sexual (líbido). Por outro lado, outras alterações hormonais decorrentes deste período diminuem a lubrificação feminina, que é adicionalmente prejudicada pelos anticoncepcionais frequentemente utilizados, condicionando dor com a penetração e, consequentemente, diminuição do prazer, do desejo e excitação. Para minimizar estes efeitos, o casal pode utilizar lubrificante, de forma a diminuir o desconforto, reiniciar a actividade sexual de forma progressiva e adoptar, inicialmente, posições sexuais mais confortáveis.

“A primeira relação sexual pós-parto dói?”

O medo do que vai acontecer, do que vai sentir, no reinício da actividade sexual pode também dificultar a vida sexual do casal. O medo, com a antecipação do momento, leva ao aumento da tensão muscular, diminuição da excitação e da lubrificação, podendo aumentar o desconforto com a penetração. Assim, o momento não deve ser apressado, pressionado – os preliminares são essenciais para que a mulher consiga excitar-se, envolver-se e aproveitar o momento. Beijos, toque, massagens, masturbação, sexo oral são ainda opções para o casal manter a intimidade, permitindo a conquista gradual da sexualidade.

Relembremos ainda a alteração da auto-imagem feminina: muitas mulheres não se sentem satisfeitas com seu aspecto no pós-parto, com repercussão na sua autoconfiança e na sua percepção de sensualidade e erotismo. A maternidade pode preencher totalmente a vida da mulher, sendo muito fácil esquecer-se de tirar tempo para si mesma. Ao contrariar esta situação, tentando promover algum tempo (por pouco que seja!) para si, a mulher vai sentir-se mais confiante, mais capaz, mais plena e, consequentemente, mais disponível para a intimidade. Para além de mãe, continua a ser mulher, companheira, namorada, amiga, filha, irmã,… Assim, o equilíbrio entre os vários papéis permite aproveitar esta fase da melhor forma possível!

É importante que o casal aprenda a lidar com as novas circunstâncias de forma natural. 

O período pós-parto acarreta ainda mais algumas alterações que têm efeito na sexualidade do casal. É frequente a perda da carga erótica associada à mama feminina, que é agora dedicada ao bebé, à sua alimentação. As diferenças entre o desejo sexual do homem e mulher frequentemente são acentuadas nesta fase, com um maior tempo necessário para a mulher estar disponível para o sexo, o que pode gerar desconforto entre o casal. O bebé chora a qualquer momento – pode acontecer na hora menos oportuna. Pode haver ainda saída de leite durante a actividade sexual. Estas situações podem condicionar stress, ansiedade e frustração. Por isso, é importante o casal aprender a lidar com estas circunstâncias de forma natural. O cansaço característico desta fase compromete (e muito!) o interesse sexual feminino. A colaboração do parceiro nas tarefas diárias, o equilíbrio entre as responsabilidades assumidas, a ajuda de terceiros ajudará a que a mulher não fique exausta.

A maternidade é vivenciada de forma única por cada mulher, por cada casal. Apesar da prioridade ser o bebé e os cuidados prestados ao bebé, os papéis de “namorados” e de “companheiros” não devem ser descurados, de forma a preservar a conjugalidade e a intimidade. 

O reinício da vida sexual é um momento importante para o casal, e deve o mais especial possível, focado no prazer e reencontro. 

É essencial que o casal mantenha a comunicação, a cooperação, o companheirismo, os projectos a dois e, quando oportuno, dar uma escapadela na rotina e investir na vida a dois!

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