Preocupas-te com o que os outros pensam de ti?

Francisca Guimarães // Fevereiro 3, 2019
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Ao longo destes últimos anos, em que tive a oportunidade de conversar com inúmeras mulheres, quer em ambiente de consulta, palestras ou até mesmo por email, tenho vindo a dar conta de que há um fator muito específico que as está a impedir de experienciar a liberdade e paz interior que tanto anseiam: a preocupação com o que os outros pensam delas.

Poderá o medo de seres julgada, criticada e rejeitada estar a condicionar as tuas escolhas?

Muitas vezes, e inconscientemente, o foco encontra-se não na tua verdade, mas sim na dos outros. O medo de seres criticada poderá então sobrepor-se à tua vontade, fazendo com que, em diversas situações, acabes por dizer sim quando na realidade querias dizer não.

Quem são as pessoas das quais tu mais procuras receber amor e aprovação? Nós procuramos o consentimento dos outros muitas mais vezes do que aquelas que possamos imaginar. É algo instintivo e que acontece sorrateiramente nas entrelinhas dos nossos pensamentos, atos e palavras. Este fenómeno só pode ser alterado no momento em que tu escolheres cortar o cordão e libertar-te da necessidade de amor e aprovação.

Preocupas-te com a opinião que os outros têm sobre ti?

Se eu tivesse uma oração, seria a seguinte:

Deus, liberta-me do desejo de amor, aceitação e aprovação.”

Byron Katie

A primeira vez que li esta passagem da Byron Katie, estava a viver na África do Sul. Tinha-me mudado para este lugar maravilhoso há poucos meses e, apesar da experiência em si estar a ser extraordinária, por dentro sentia-me absolutamente perdida, desiludida comigo mesma e com uma profunda sensação de falhanço.

Via os meus amigos a trabalhar, casar, ter filhos e ali estava eu, exatamente com a mesma idade e mesmas oportunidades, sem saber sequer que rumo dar à minha vida. Não sabia quem era, muito menos o que queria. Eu sentia-me diferente e, consequentemente, inadequada.

Não me identificava com a maioria das pessoas que me rodeavam. Não me revia no seu estilo de vida, princípios e valores, e também não partilhava das mesmas ambições. Sentia que pertencia ao mundo, mas ao mesmo tempo a lugar nenhum. Há anos que andava de mochila às costas, saltando de um lugar para outro, vagueando por aqui e por ali, sempre na busca de respostas mas, principalmente, na esperança de vir a encontrar um lugar, dentro de mim, ao qual pudesse chamar casa.

Nem todos aqueles que vagueiam estão perdidos.”

J.R.R. Tolkien

A percepção que eu tinha de que era diferente dos outros – ou o síndrome do patinho feio, como lhe gosto de chamar – tornou-se numa vulnerabilidade para mim e, portanto, num alvo de crítica e de opiniões não requisitadas. De repente, parecia que todos à minha volta sabiam como devia gerir a minha vida menos eu!

O que mais desejava era uma sensação de pertença; sentir-me amada, aceite e reconhecida, não só por quem eu era, mas também por aquilo que fazia. Isso levou a que muitas vezes tenha moldado a minha essência, personalidade, princípios e ambições às preferências dos outros – algo que me trouxe muito sofrimento.

Como o meu caminho me parecia duro, esburacado e lamacento, por diversas vezes desviei-me em direção aos que me pareciam mais bonitos e, acima de tudo, mais simples. Hoje eu sei que, e citando Krisna na obra sagrada hindu “Bhagavad Gita”,

Mais vale viveres o teu caminho de maneira imperfeita, do que viver o dos outros perfeitamente.”

Krisna

Será que a opinião dos outros poderá estar a condicionar a tua vida?

Recordo-me que quando li a citação da Byron Katie acima descrita, tomei consciência de algo que para mim foi absolutamente transformador. Naquele momento, eu apercebi-me que muitas das minhas grandes decisões se tinham baseado no medo da rejeição; medo de que, caso não fizesse o que os outros consideravam correto, não fosse ser aceite e amada por quem eu verdadeiramente era.

Em determinados momentos da minha vida, permiti que a opinião de quem me rodeava, assim como aquilo que eles consideravam ser certo ou errado, condicionasse as minhas escolhas. Reconheço que nessas alturas em que me senti perdida, eu guiei-me pela bússola dos outros; eu escutei a sua verdade e ignorei a minha.

E, se houve algo que tenha aprendido com toda esta jornada interior, foi que sempre que eu me desvio do meu caminho, eu sofro. De todas as vezes que eu presto atenção aos palpites alheios, e silencio a voz da minha sabedoria interior, sinto todo o meu ser murchar.

Ao dizer sim, quando na realidade quero dizer não, estou a trair-me a mim mesma e isto não é amor, nem por mim nem por ninguém.

Tu não tens que provar nada a ninguém

Hoje, anos mais tarde, olho para trás e dou conta de algo muito interessante. O meu caminho passou a fazer sentido para mim, precisamente no momento em que escolhi libertar-me da necessidade de amor, aceitação e aprovação por parte dos outros.

Foi no instante em que, como que por magia, despertei para o facto de que eu não preciso de provar nada a ninguém, nem mesmo a mim própria. Eu não vim ao mundo para agradar ou servir quem me rodeia. Estou aqui simplesmente para ser eu mesma, colocando, da melhor maneira que sei e consigo, um pé à frente do outro, num caminho que por vezes é sombrio, movediço e incerto.

As pessoas irão sempre julgar. Independentemente de tu ires pela direita ou pela esquerda, para cima ou para baixo, tu irás ser julgada, criticada, reprovada e, sim, em muitos momentos, não amada também.

Quanto mais autêntica e fiel aos teus princípios tu fores, maiores serão as críticas. A maioria das pessoas não suporta o aroma de felicidade, contentamento, independência e liberdade que são emanados por quem se desapegou da necessidade de satisfazer a opinião dos outros.

Tu és livre

“Eu sou livre.” Estas são as palavras mágicas. De cada vez que tu as pronuncias, estás a afirmar e recordar a tua essência, que é livre no tempo e no espaço, assim como também de todas as condicionantes internas e externas.

Acredito que escolheres soltar toda e qualquer necessidade de amor, aceitação e aprovação, seja o ato mais heróico e libertador que alguma vez farás. A partir de um lugar de amor, e isento de arrogância, reconheces que tu não precisas do consentimento de ninguém para percorreres o teu caminho, mesmo que imperfeito.

Tal como um cisne, que algures no tempo se considerou um patinho feio, também tu és um espírito livre.

Nota: Fotografia por Marta José.

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