Quando o pânico ataca

Diogo Telles Correia // Junho 18, 2019
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O que  é um ataque de pânico?

Um ataque ou crise de pânico consiste num período abrupto de medo e desconforto intensos que atinge um pico em poucos minutos. Acompanha-se de vários sintomas físicos: palpitações (sensação do coração a bater muito rápido e intensamente), suores, tremores, sensação de falta de ar, desconforto no peito, náuseas, vómitos, dores abdominais, diarreia, tonturas, etc. Podem ocorrer sintomas psicológicos, como sensação de desrealização (parece que há alguma coisa de diferente no mundo) e despersonalização (parece que não somos a mesma pessoa, algo mudou). Mas, o sintoma central nas crises de pânico costuma ser o “medo de morrer”. Alternativamente pode ocorrer um medo de perder o controlo, ou o medo de enlouquecer.

Como se desenvolve um ataque de pânico?

Várias situações do dia-a-dia podem provocar ansiedade, esta pode manifestar-se não só psicologicamente, mas também por manifestações físicas. Todos nós já sentimos ansiedade devido a uma prova de desempenho escolar ou profissional, ou quando esperamos um resultado médico importante. Nessas ocasiões, é normal sentirmos o coração a bater mais rápido e até suarmos um pouco mais, mas nas pessoas que têm crises de pânico, estas manifestações físicas de ansiedade são interpretadas de outra forma e emergem automaticamente uma enxurrada de pensamentos catastróficos: “Algo se passa contigo, o teu coração não pára, vais ter um ataque, vais morrer…”. Estes pensamentos vão ter como consequência o agravamento da ansiedade, o que vai alimentar este círculo vicioso.

Em alguns pacientes com perturbação de pânico, o que espoleta este círculo nem são alterações corporais consequentes de ansiedade, mas meros estímulos fisiológicos resultantes do funcionamento normal do corpo. Por exemplo, por se concentrar excessivamente nos batimentos cardíacos (normais), uma pessoa com perturbação de pânico pode, subitamente, senti-los com uma intensidade exacerbada, o que a deixa ansiosa, iniciando-se uma crise de pânico.

Nalgumas pessoas os receios que se instalam não têm a ver directamente com “o medo de morrer”, mas, sim, “o medo de enlouquecer”, “de perder o contacto com a realidade”. Nestes casos ocorrem os fenómenos denominados por despersonalização (“não sei quem sou, parece que não sou eu, parece que é outra pessoa dentro de mim”), e desrealização (“o mundo mudou, algo mudou fora de mim e não sei explicar o que é”). Também estas situações provocam uma grande inquietação.

Imagem retirada do livro “Ansiedade nos nossos dias”, de Diogo Telles Correia

Como se manifesta?

Nos episódios de pânico as manifestações físicas de ansiedade revelam-se através de alterações corporais [sensação do coração a bater muito rápido (palpitações), tremores, suores, dificuldade em respirar…]. Estes desencadeiam nos pacientes com Perturbação de Pânico, pensamentos catastróficos (“vou morrer, vai acontecer-me algo…”) e isso vai despoletar mais ansiedade e mais manifestações físicas de ansiedade. Por outro lado nalguns doentes apenas alguns estímulos fisiológicos normais como os movimentos do intestino ou sensação do estômago repleto, podem desencadear por si só pensamentos catastróficos de que algo de mal se está a passar com o corpo, criando mais ansiedade e iniciando um ciclo de pânico.

A perturbação de pânico

A Perturbação de Pânico é caracterizada pela presença de ataques de pânico inesperados recorrentes. Os pacientes pedem-nos ajuda porque deixam de poder fazer a sua vida como habitualmente. Em qualquer momento, de trabalho, de lazer, podem surgir as crises de pânico. Nalguns casos mais graves os pacientes começam a ficar retidos em casa com medo que elas surjam.

Como se diagnostica a perturbação de pânico?

Antes de mais é importante que sejam excluídos problemas médicos. Para isso das primeiras vezes em que os pacientes manifestam estes sintomas são lhes pedidos exames médicos para nos certificarmos que todas as manifestações físicas que estão presentes se devem à ansiedade (por exemplo: eletrocardiograma, RX, análises). Após estar excluída a patologia médica pode se proceder ao tratamento específico da perturbação de pânico. É importante sublinhar que os exames que se pedem no início não necessitam ser repetidos cada vez que o paciente tem uma crise com as mesmas manifestações, sob pena de ajudar a perpetuar-se a situação.

Os pacientes com perturbação de pânico são frequentadores assíduos das urgências dos hospitais, estatais e privados. Todos os dias aparecem dezenas de situações destas nas urgências. Isto porque, infelizmente, como outras situações de ansiedade, não é preconizado um tratamento profundo e especializado destes pacientes, e então tratam-se, apenas, as crises. Quando os pacientes chegam às urgências, o procedimento é sempre o mesmo: são medicados com um tranquilizante, que reduz de imediato a ansiedade, passam por um ou dois exames (devem ser feito apenas os necessários) e têm alta. Na semana seguinte, muitas vezes, lá estão de novo, e os procedimentos seguidos são os mesmos, até que um médico da urgência consiga encaminhar o paciente para uma consulta de psiquiatria, onde terá finalmente um tratamento de base para a sua situação.

Como se trata a perturbação de pânico?

O tratamento da perturbação de pânico deve ser psicoterapêutico e farmacológico.

A psicoterapia pode focar-se na redução do estado ansioso global, possivelmente provocado por questões pessoais (laborais, relacionais, existenciais etc.), mas pode também focar-se em exercícios destinados a lidar com as crises de pânico. Para isso, o fator primordial é explicar o ciclo do pânico (ver imagem acima). Esta mera elucidação costuma contribuir para uma maior sensação de controlo sobre as crises.

São treinadas com o paciente formas de eliminar os pensamentos catastróficos de modo a bloquear o círculo vicioso do pânico. Em vez de “Vou ter um ataque cardíaco, vou morrer”, pensar “Já tiveste isto várias vezes, já te asseguraram que é da ansiedade, já fizeste os exames necessários para descartar, os sintomas passam com calmantes…”. Há quem recomende escrever cartões com estas mensagens para levar na carteira, para usar em caso de crises.

Por outro lado, pode ser bom treinar técnicas de relaxamento (que incluem relaxamento muscular – percorrendo os vários grupos musculares com momentos de contracção forte seguidos de relaxamento, mantendo sempre uma respiração profunda), técnicas de distração (por exemplo: ensinar o paciente a concentrar-se em algo externo a si nos momentos de pânico, descrevendo um quadro que veja à sua frente, lendo as matrículas dos carros que passam, etc.), entre outras.

O estímulo do exercício físico revela-se, por vezes, muito útil. Não só porque vai estimular um maior relaxamento mental e corporal, mas também porque aumenta a tolerância às alterações fisiológicas do organismo. Ou seja, os pacientes habituam-se a associar alterações fisiológicas como o bater mais rápido do coração a situações prazerosas e isso torna mais fácil desassociá-las dos pensamentos catastróficos típicos das crises de pânico. É importante adequar o tipo de exercício físico a cada perfil. Para um jovem pode ser indicado um desporto mais agressivo e extenuante, enquanto para uma pessoa de mais idade pode ser mais indicado a marcha ou a hidroginástica, por exemplo. É fundamental que o paciente escolha uma atividade desportiva em que se sinta bem. Não devemos impor nenhum tipo. Frequentemente acontece que estes pacientes beneficiam mais de práticas mais exigentes do ponto de vista físico (que “cansem mais”), do que outras que assumem ser mais adequadas para aliviar a tensão, mas que não induzam o relaxamento e bem-estar a que as mais exigentes (e “cansativas”) geralmente se associam.

Os principais medicamentos usados para a perturbação de pânico são, como para as restantes formas de ansiedade, os antidepressivos inibidores seletivos da recaptação de serotonina e os tranquilizantes (por um curto espaço de tempo). Geralmente o tratamento farmacológico faz-se por um período de meses, e os pacientes respondem muito bem, devendo idealmente ser acompanhado de psicoterapia.

Para um maior desenvolvimento do tema consulte o livro:

Livro “Ansiedade nos nossos dias”, de Diogo Telles Correia

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