Quem somos nós perante a magnitude da Serra da Estrela?

Fátima Lopes // Novembro 28, 2022
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serra da estrela
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Quando neste Verão ocorreu a calamidade dos múltiplos incêndios na Serra da Estrela, que duraram 10 intermináveis dias, a minha filha Beatriz decidiu enviar um mail ao Diretor do Estrela GeoPark disponibilizando-se como voluntária para aquilo que fosse preciso. Fiquei feliz pela sua atitude, mas disse-lhe que era quase impossível que lhe respondessem, tendo em conta a desgraça que estávamos a viver. Falo no plural porque este não era, nem é, um problema apenas das gentes da Serra. É um problema de todos nós. Do país. E se calhar se vivêssemos cada incêndio como se tivesse deflagrado numa propriedade nossa seríamos mais  exigentes com as políticas definidas para proteger as nossas florestas e absolutamente implacáveis quando não passam de ideias no papel. Exigiríamos até às últimas consequências a responsabilização de todos os que estão envolvidos na causa e resolução dos incêndios. 

Portugal tem várias manchas no curriculum dos incêndios. 

Eu faço por não ter memória curta e, por isso, Pedrógão está bem vivo dentro de mim. É uma dor que não me passou, mas que a muitos infelizmente não lhes tira o sono. 

O que aconteceu este ano na Serra da Estrela é de uma gravidade difícil de explicar. 

Felizmente nenhum ser humano morreu, mas morreram muitos animais, muitas árvores, muitas plantas, muitos ecossistemas, muitas fontes de sustento das gentes da Serra. E eu pergunto: isso não interessa? Isso não tem valor? É que não ouvi falar de responsáveis pelo facto dos incêndios se terem prolongado tanto tempo e com reacendimentos, no mínimo, estranhos… 

Estou muito revoltada com este desporto nacional de assobiar para o lado e fazer de conta que não aconteceu nada. É uma questão de respeito por aquilo que pertence a todos e do qual depende o futuro da humanidade. 

Sim, sem natureza saudável não fica cá ninguém para contar a história. As consequências serão iguais para todos. Não tenhamos ilusões. Então, porquê tanto desrespeito, indiferença e inércia para com as nossas florestas? Para mim, quem não sabe zelar pelas florestas e cuidar delas com amor, quer na manutenção diária, quer na prevenção e no combate aos incêndios, não serve para assumir cargos ou responsabilidades ligadas às mesmas. É como um médico. Se não sabe cuidar com competência dos seus pacientes, então não deve ser médico porque põe em risco a saúde das pessoas e, no limite, pode levá-las à morte. Com as florestas é exatamente o mesmo. 

Nesta altura, poucos meses depois da calamidade deste Verão, já não se fala da Serra da Estrela. Falou-se do plano de recuperação e reflorestação, que vai levar até 10 anos, imaginem a dimensão da ferida, mas mais nada. Agora parece que é um assunto só das gentes da Serra. Não deveria ser. 

O que mais me dói, é termos, de novo, de falar em recuperar, reflorestar, renascer, em vez de prevenir. Porquê, meu Deus? É assim tão difícil mudar a forma como cuidamos e protegemos as nossas florestas? 

Voltando ao mail escrito pela minha filha ao Diretor da Estrela GeoPark, este respondeu-lhe no próprio dia. Fiquei tão surpreendida que enviei de seguida um mail identificando-me e oferecendo-me para ajudar em tudo o que eu pudesse. A partir daí estabeleceu-se uma relação muito próxima com a equipa do Estrela GeoPark. Eu, a Beatriz e muitos dos nossos amigos, subscrevemos o cartão “Reflorestar”, que custa 10€ e cujo valor reverte para o fundo de reflorestação, dando-nos a nós descontos em muitos hotéis, turismos rurais, restaurantes e serviços locais. Quando anunciaram a Rota das Faias, a decorrer nos fins de semana de Novembro, resolvemos inscrever-nos e participar. 

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A Rota das Faias

Foi uma caminhada maravilhosa, mas ao mesmo tempo, dolorosa. As zonas queimadas da Serra cortaram-nos o coração. São feridas terríveis e profundas que nem sempre serão possíveis de cicatrizar. Repito: a recuperação da Serra vai levar até 10 anos.

Esta caminhada levou-nos até às Faias, árvores robustas, resilientes e muito bonitas que nos lembraram que é preciso resgatar a esperança. Que nos brindaram com a sua beleza e nos pediram que não as esqueçamos, elas que são um reduto da tão necessária esperança. Emocionámo-nos mais do que uma vez e foi bonito ver um grupo de pessoas, vindas dos 4 cantos do país, unidas pelo amor à Serra e pela vontade de a fazer sentir que nós não a esquecemos.

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Todos os que se juntarem a estas iniciativas do Estrela GeoPark serão recebidos de braços abertos por uma equipa maravilhosa, a quem deixo o meu abraço. Acompanhem as actividades do Estrela Geopark, participem e ajudem. Nós, em breve, vamos voltar.

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Nota: Fotografias por Leonardo Rosa

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