Sacos (de plástico) há muitos!

Equipa Planetiers // Julho 3, 2018
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“Sacos de plástico há muitos, seus palermas!” É isto que o planeta nos tem tentado dizer ao longo dos últimos anos. Felizmente, estamos agora a começar a ouvi-lo. Não há forma de fugir dele: o plástico está em todo o lado. Seja nos automóveis, computadores, brinquedos, calçado, construção civil ou mesmo instrumentos de saúde, estes compostos fazem parte do nosso dia a dia e são apontados como responsáveis de parte do conforto e conveniência das nossas rotinas.

A verdade é que nem todos os plásticos são maus. 

Contudo, com uma grande percentagem da produção de plástico (ainda) dedicada à produção de embalagens, sacos e plásticos descartáveis, esta indústria, que figura como a 7ª. mais valiosa da Europa, é uma das mais prejudiciais para o meio ambiente e qualidade de vida dos cidadãos.

Em 2016 foram produzidos no mundo 335 milhões de toneladas de plástico. Na Europa fomos responsáveis por 60 milhões de toneladas (o 2º. continente com maior contribuição), 40% das quais destinadas a embalagens e sacos de uma só utilização, produzindo o valor ridículo de 25,8 milhões de toneladas de resíduos plásticos.

“Tudo bem, mas há ecopontos, com certeza foi reciclado.”

Estudos estimam que desde 1950 apenas 10% de todos os resíduos plásticos foram reciclados, 12% incinerados e, os restantes, acabaram por ir parar a aterros sanitários.

Só na Europa são produzidos 100 mil milhões de sacos de plásticos todos os anos e, segundo um estudo do “The Ocean Conservatory” (2015), estes sacos são o 2º. resíduo mais encontrado no oceano, rios e praias, apenas superado pelas beatas de cigarro.

Se sempre te questionaste onde estaria aquele saco de plástico que há um ano caiu acidentalmente fora do caixote do lixo, já sabes: provavelmente consegues encontrá-lo no fundo de um dos nossos oceanos.

Mas, qual é o problema do plástico? 

Para além dos problemas relacionados com uma produção energeticamente exigente e, na maioria dos casos, com utilização de petróleo, o grande inconveniente para o ambiente surge na parte da gestão dos resíduos plásticos.

Se por um lado a maioria dos plásticos tem toxinas contaminadoras, por outro, estes são fotodegradáveis (não confundir com biodegradáveis). Ou seja, à medida que um saco de plástico, em exposição à luz, começa a degradar-se em fragmentos mais pequenos, começa também a libertar toxinas que contaminam a água e solo, com efeitos muito nocivos para os animais que os ingerem – em muitos casos, alguns destes animais somos também nós, os humanos.

Todos os anos são lançados nos oceanos cerca de oito milhões de toneladas de lixo plástico e derivados que, pela ação do sol e movimentação da água, acabam por se separar em micro plásticos, muitas vezes confundidos por plâncton e consumidos pelos peixes. Ao comermos estes peixes, estamos também a ingerir todas as toxinas libertadas por estes microplásticos, que estão diretamente associadas a maiores riscos de cancro, asma e infertilidade.

Para além destes pedaços de plástico libertarem toxinas como ftalatos ou BPA’s, estes também absorvem muitas toxinas com facilidade, transportando pesticidas perigosos como DDT, PCB ou PAH, até ao topo da cadeia alimentar.

“Então, paramos de comer peixe?” 

Não se trata de excluir o peixe das nossas rotinas, mas, sim, reduzir o uso de plásticos. Estes microplásticos estão também presentes em cosméticos, geles de banho ou pastas de dentes – estima-se que 10% de uma pasta de dentes comum seja constituída por microplásticos. Esta é uma das principais razões pela qual optar por cosméticos naturais e biológicos é uma decisão tão acertada e benéfica para a saúde.

Para além desta degradação ser tóxica, ela também se prolonga no tempo. Alguns plásticos não chegam mesmo a desaparecer: para se degradarem “completamente”, uma garrafa comum precisa de 450 anos, um saco de plástico pode demorar até 1000 e um pedaço de esferovite demora, aproximadamente, a quantidade imaginável de 1 milhão de anos até desaparecer.

O que está a ser feito? 

O ano de 2018 tem sido muito positivo em termos de planos e iniciativas para combater o plástico – com estratégias apontadas para 2020 e 2030, são muitos os países da União Europeia a assumir uma posição de recusa total aos plásticos descartáveis.

Para a Associação Zero, o problema não está no plástico como material (bem utilizado consegue trazer-nos vantagens), mas, sim, nos produtos plásticos pensados para uma única utilização – sacos de plástico, palhinhas, plásticos descartáveis ou embalagens.

Da nossa experiência, a nível nacional, confirma-se que taxar estes produtos é uma boa estratégia. Em Portugal, desde que entrou em vigor, em fevereiro de 2015, a taxa ambiental sobre os sacos de plástico leves, a redução tem sido exponencial. Em finais de 2016, de acordo com a APED, a utilização destes sacos diminuiu em cerca de 71%, principalmente em grandes superfícies. Segundo a Associação Zero, esta taxa devia ser expandida a sacos de maior espessura e a outros sectores de atividade, como lojas de roupa, sapatarias, brinquedos ou farmácias, que continuam a oferecer aos seus clientes sacos de um só uso.

Outras ideias, já pensadas para implementar em Portugal no próximo ano, serão a introdução nos supermercados de máquinas que imprimem talões de desconto em troca de garrafas de plástico usadas e benefícios fiscais para empresas que assumam atitudes ecológicas e optem por alternativas menos prejudiciais ao ambiente.

O que posso eu fazer? 

Contribuir para esta causa é super simples: reduzir o lixo plástico é diminuir o uso de plásticos desnecessários nas tuas rotinas.

Dicas simples passam por Recusar (será que preciso mesmo de uma palhinha para

beber este sumo natural?), comprar frutas e vegetais sem embalagens, a granel ou produtos embalados em alternativas de papel e vidro.

Outro grande contributo para a produção de menos lixo plástico é utilizar um saco reutilizável. Podes adquirir o teu em qualquer loja comum ou fazer o teu facilmente em casa utilizando apenas uma t-shirt velha.

Caso penses em recusar os descartáveis, mas não queiras perder o conforto e facilidade que estes te dão, podes sempre optar por alternativas, como copos reutilizáveis ou pratos biodegradáveis e comestíveis de farelo de trigo.

Por último, há que pensar: o que é que uso na minha rotina que crie resíduos plásticos e para o qual já tenho alternativa? Na minha higiene, uso uma escova de dentes 100% biodegradável? Será que devo começar a utilizar um shampoo mais duradouro e sem embalagem? No meu dia a dia, será que uma garrafa reutilizável conseguiria diminuir o plástico que consumo?

Depois de todos estes cuidados, provavelmente ainda não conseguiste livrar-te de todos os teus resíduos plásticos. Seguem-se os próximos dois passos: Reutilizar o que for possível antes de colocar no ecoponto e, por fim, e quando já não houver nada a ser feito, Reciclar.

Evaristo, tens cá disto? 

Um Evaristo do século XXI não tem desculpas para continuar com os mesmo produtos plásticos na sua loja – estima-se que, até 2050, haja mais plástico nos oceanos do que peixe (neste momento, em certas regiões marinhas, a concentração de polímeros sintéticos já supera a quantidade de plâncton disponível).

Se já alguma vez foste a uma praia menos concorrida e ficaste surpreso com a quantidade de lixo que estava no areal, fica a saber que este apenas representa 15% dos resíduos que se encontram nos oceanos (70% destes encontram-se submersos, no fundo do mar).

Com cerca de 70% da superfície do planeta coberta por oceanos, ecossistemas ricos em variedade de habitats e biodiversidade, reduzir o uso de plástico (com prioridade para os descartáveis) é uma responsabilidade de todos para com o planeta e a humanidade, para que as próximas gerações possam ter a oportunidade de experienciar o planeta rico e fértil onde nós tivemos a sorte de poder viver.

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