Tudo o que precisa de saber sobre enxaqueca

Fátima Lopes // Novembro 9, 2020
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enxaqueca
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Sabia que mais de 15% da população sofre de enxaqueca em todo o mundo? Embora seja conhecida como uma dor de cabeça, a enxaqueca não é só uma simples dor de cabeça. É muito mais que isso. Náuseas, vómitos, intolerância à luz, a determinados barulhos mais fortes. Está a reconhecer o cenário? Para perceber um pouco melhor sobre esta doença estive à conversa com a Dr.ª Isabel Luzeiro, Presidente da Sociedade Portuguesa de Neurologia.  

7 Perguntas e respostas sobre enxaquecas:

1. O que é a enxaqueca? A enxaqueca é uma dor de cabeça normal? Como se pode diferenciar a enxaqueca de uma dor de cabeça dita “normal”?

A enxaqueca é uma doença que cursa com um tipo específico de cefaleia, vulgo, dor de cabeça, entre mais de 30 tipos diferentes. A enxaqueca atinge mais de 15% da população mundial. A entidade enxaqueca não é só a dor de cabeça embora seja conhecida por ela: dor pulsátil (ou latejante) referida a uma metade da cabeça ou a toda a cabeça, agravando com as atividades de rotina como, por exemplo, subir uma escada. Na ausência de medicação, pode durar de 4 a 72 horas e acompanha-se de náuseas e /ou vómitos e intolerância à luz, barulho e movimentos da cabeça. Antes e depois da crise de dor ocorrem alguns sintomas e sinais que “avisam” que a crise está para surgir ou está a terminar: bocejo, irritabilidade, falta de concentração, apetência por certos alimentos. Uma percentagem de doentes tem uma aura antes da fase de dor que se trata de um conjunto de fenómenos positivos ou negativos visuais, alterações da sensibilidade ou formigueiros, seguida da mesma sensação nos lábios (de um dos lados). 

Apesar de a enxaqueca ser mais incapacitante, a dor de cabeça mais frequente é a cefaleia de tensão: dor tipo peso ou capacete, habitualmente sentida em toda a cabeça. É uma dor “aborrecida“ que vai agravando para o fim do dia e não varia com os esforços ou exercício. Todos nós já tivemos esta dor de cabeça.

2. Como neurologista dedicada a cefaleias, quais os principais desafios que enfrenta na sua prática clínica no seguimento de pessoas com enxaqueca?

O doente com cefaleias tem uma relação com o seu médico baseada na confiança e na credibilidade que o médico dá à doença. Não é por acaso que os médicos com enxaqueca são os que melhor relação têm com as doentes que sofrem da mesma patologia. Devido ao descrédito que existe em relação à enxaqueca, quer ao nível social, quer entre os pares, tem sido um desafio dar voz a esta patologia neurológica e o eco social necessário.

3. Qual o impacto que a enxaqueca tem na vida das pessoas?

Embora a Organização Mundial de Saúde (OMS) considere a enxaqueca como uma das doenças mais incapacitantes, a enxaqueca ainda não é reconhecida como doença pela sociedade. É muitas vezes, de forma errada, associada a um ligeiro incómodo que só afeta as pessoas mais sensíveis ou ansiosas, ou que serve de desculpa para não trabalharem!

A nível social, o doente com enxaqueca é, muitas vezes, classificado como aquele que não consegue estar com os amigos num jantar ou que num fim-de-semana é a pessoa que não socializa e que está sempre com “as enxaquecas”.

A nível familiar, os doentes acabam por ser muitas vezes mal interpretados: “Como é que uma dor pode impedir de estar com os filhos, com o/a parceiro/parceira?”.

Mas, felizmente, nem todas as pessoas pensam assim e as mentalidades estão a mudar, com base no aumento do conhecimento sobre o impacto que a enxaqueca tem na vida pessoal, familiar, social e profissional.

4. Sendo uma doença neurológica, quando procurar um especialista e a que especialista se deve recorrer para tratar a enxaqueca?

Os médicos de Medicina Geral e Familiar têm conhecimento da enxaqueca e como tratá-la. No entanto, se a mesma se torna muito frequente, resistente à medicação, ou se torna crónica (pelo menos presente em 15 ou mais dias por mês), ou se há suspeita de uso excessivo de medicação de alívio da dor sentida durante a crise, o doente deve ser reencaminhado para o neurologista. E se possível para  um neurologista especializado em cefaleias.

5. Como era tratar um doente com enxaqueca quando começou a trabalhar na área e como é tratar um doente com enxaqueca hoje?

Quando iniciei a minha atividade nesta área os recursos eram muito escassos. As medidas baseavam-se principalmente no aconselhamento do doente nomeadamente como evitar fatores que desencadeiam as crises: dormir bem e com horários regulares, não comer certos alimentos como chocolate ou citrinos e evitar o stress. Em termos de arsenal terapêutico, não houve grandes avanços, até agora. Sempre foram usados medicamentos estudados para outras patologias em que, acidentalmente, se descobria a sua eficácia nas cefaleias.

6. O que é que ainda pode ser feito pelos doentes com enxaqueca em Portugal?

Sensibilização da entidade patronal sobre esta patologia permitindo que os doentes possam ir para casa quando estão com uma crise, evitando assim o presenteísmo (estão no trabalho, mas não conseguem ser produtivos devido a estar com enxaqueca) ou não penalizar as pessoas que não vão trabalhar quando têm uma crise (absentismo). A divulgação e acreditação desta entidade facilitará muito a sua aceitação, por todos em geral. 

Falar da doença através dos media poderá contribuir para o conhecimento da doença e o seu impacto na qualidade de vida. As Associações de Doentes são um apoio muito importante, onde os doentes podem encontrar informação correta e podem ter o apoio de uma comunidade que também sofre desta doença tão incapacitante. A MiGRA Portugal é a Associação Portuguesa de Doentes de Enxaqueca e Cefaleias e, com pouco mais de 1 ano, tem desenvolvido um trabalho muito interessante nesse sentido.

7. Que dicas ou conselhos daria a uma pessoa com enxaqueca?

Se sofre de enxaqueca, não tenha receio de a assumir. Associe-se a outros doentes com a mesma patologia para poderem ter voz.

Procure ajuda recorrendo a um médico que o possa acompanhar. Se for possível recorra a um médico especializado na área das cefaleias.

NOTA: Artigo em colaboração com “Dá Voz à Tua Enxaqueca”.

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