Convidei a Psicóloga Susana Amorim, autora de vários livros infantis e considerada uma das autoras revelação na área, para escrever sobre a importância dos livros para o bem-estar das crianças. Isto a propósito do Dia Internacional do Livro Infantil. Espero que gostem.
Fátima Lopes
Um livro é uma porta de entrada para um mundo imaginário.
A verdade é que as crianças têm, por excelência, a capacidade de entrar por essa porta sempre que querem com uma facilidade espantosa, mas que, infelizmente, por vezes se vai perdendo à medida que os anos passam. Cabe-nos a nós, adultos, preservar e estimular essa capacidade, alimentando-a e enriquecendo-a, pois a imaginação é algo que se for usado de uma forma construtiva, em muito, pode contribuir para um crescimento saudável.
Um livro é um caminho direto para esse mundo fantástico, onde tudo pode acontecer, onde adulto e criança se aproximam e vagueiam por entre as palavras e as imagens, fazendo descobertas, questionando, percorrendo aventuras e, sim, deixando que algo se transforme dentro de si. Porque um livro tem esse poder transformador: quando lemos um livro, lemos o mundo com outros olhos, sonhamos acordados, reinventamos e expandimos a compreensão das coisas.
Desde muito cedo, os livros chamam a atenção das crianças, seja pelas cores, pelos sons, texturas e, mais tarde, pelo que contam. Alguns tornam-se mesmo companheiros de crescimento, onde se volta sempre que necessário. Quantas vezes as crianças nos pedem para contar a mesma história vezes sem conta, sabendo-a já de cor, ao ponto de se alterarmos uma palavra elas repararem e corrigirem-nos?
O facto das crianças, com facilidade, se identificarem e reverem nas personagens de uma história possibilita que, a partir de um livro, se possa chegar bem perto do seu mundo interior e afetivo. Quando assim é, o seu envolvimento e participação na história pode revelar-se especialmente enriquecedor. Por isso, um livro pode também ser um importante recurso para trabalhar e explorar inquietudes, perceber emoções, possibilitando diálogos e ajudando na compreensão e expressão tanto do mundo interior como de tudo o que nos rodeia.
Quantos de nós temos livros que nunca esquecemos? Que por um motivo ou outro nos mostraram algo que continua a fazer sentido, que continua a fazer-nos sorrir, a fazer-nos temer, a fazer-nos pensar. As histórias enriquecem-nos e habitam-nos: as histórias que vivemos, as histórias que lemos, as que nos contaram e as que contamos.
E também eu quero deixar-vos aqui uma história. Lanço-vos o desafio de que, agora que se celebrou o dia do Livro Infantil, que contem às crianças aí em casa. Espero que esta história seja uma porta aberta à imaginação saudável, aquela que consegue transformar um grande monstro num amigo!
Boas leituras!
Susana Amorim
A imaginação do João
A professora do João todas as sextas-feiras conta uma história à turma.
Eles adoram aquele momento, até porque a professora faz entoações com a voz e inventa sons, deixando-os encantados e com a sensação de que são eles os protagonistas!
A história daquele dia era sobre animais da selva e, para o João, foi das mais empolgantes que ele alguma vez ouvira.
Nesse dia, ele ficou tão entusiasmado que foi o caminho todo até casa a pensar no misterioso crocodilo da história, que andava sempre escondido e tinha uns grandes olhos observadores, que espreitavam à superfície da água.
À noite, já deitado, enquanto o pai lhe lia um livro como habitualmente, o João começou a sentir-se estranho e incómodo. Quando deu por si, não estava a ouvir nada da história que o pai lhe contava… Na verdade, o João estava a pensar novamente no crocodilo, mas agora estava a sentir-se assustado.
– Papá, acho que está um crocodilo debaixo da minha cama! – disse ele com voz trémula.
– A sério? – perguntou o pai com admiração. – Vamos lá ver isso…
O pai levantou-se, foi buscar uma lanterna e, juntos, investigaram o que estava debaixo da cama. Curiosamente, a única coisa que lá estava era uma peça de puzzle que o João já tinha procurado por todo o lado.
– João, acho que está a nascer um papão na tua imaginação! – cantarolou o pai enquanto o abraçava com carinho. – Vamos brincar um bocadinho com ela?!
O João respondeu que sim, ainda sem perceber bem como podia brincar com a imaginação.
– Imagina o crocodilo, João – pediu o pai. – Mas agora imagina-o desdentado! E imagina-o também às bolinhas azuis e com um laçarote rosa na cabeça!
O João sorriu logo e quanto mais o imaginava assim, sem dentes, com a boca toda encolhida e com aquelas cores, mais vontade tinha de rir. Por fim, conseguiu adormecer descansado e sem medo daquele crocodilo.
A verdade é que às vezes o João ainda acha que o crocodilo, forte e com dentes afiados, está debaixo da sua cama… Mas agora o João imagina que o crocodilo está a protegê-lo e assim não há nenhum papão que o possa incomodar!
Nota biográfica:
Susana Amorim nasceu em 1976 no distrito de Aveiro.
É formada em Psicologia desde 2001, trabalhando desde sempre – ainda estudante através de vários voluntariados – essencialmente com crianças e jovens, tanto em contexto preventivo, como terapêutico.
Atualmente desenvolve o seu trabalho na Oficina das Emoções, Clínica Goarmon Pessoa, onde, através de acompanhamento individual, pretende promover Saúde Emocional. Desenvolve, ainda, sessões em escolas através da aplicação de programas de competências emocionais, dos quais é autora, e também no âmbito dos livros que tem editados.
É autora dos livros:
“Nuvens na Cabeça” (pertencente ao PNL), Editora Cercica 2014
“Perto” (pertencente ao PNL), Editora Cercica 2015
“Álbum de Famílias”, Editora Booksmile 2017 (será editado em maio)
[shareprints gallery_id=”6271″ gallery_type=”slidescroll” gallery_position=”pos_center” gallery_width=”width_100″ image_size=”medium” image_padding=”10″ theme=”light” image_hover=”false” lightbox_type=”slide” titles=”true” captions=”true” descriptions=”true” comments=”true” sharing=”true”]
