Vulvas e vaginas perfeitas, existem?

Lisa Vicente // Setembro 16, 2021
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vulvas
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Saiba que estão descritas vulvas «bonitas/ideais» completamente diferentes. A «imagem do belo» ou a «imagem da perfeição» não é objectiva, nem universal, nem imutável. Vai sendo construída, reconstruída e reinventada socialmente ao longo dos anos. É diferente em cada cultura e muda ao longo dos anos.

Comecemos pelo princípio: é importante nomear a vulva pelo seu nome, que é sistematicamente apagado do discurso social, e mostrar a sua diversidade natural. Abordar as histórias, as dificuldades e as conquistas nesta luta contra a normalização vigente.

Fazer com que a vulva «exista no discurso social».

Não sei se costuma dizer vulva, quando se refere aos genitais externos. O clítoris, os grandes e pequenos lábios e o introito (abertura externa da vagina) têm este nome. Mas, muitas vezes, as pessoas dizem e escrevem (vê-se muitas vezes escrito) «vagina». Não é uma vergonha dizer «pénis», não deve ser uma vergonha dizer vulva.

A vagina nunca se vê. Sente-se.

A vagina é o canal que existe entre a vulva e o útero. Pode ser saudável, confortável ao toque e excitável a estímulos sexuais. Não precisa ser «perfeita» com um Ponto G. Saiba que esta zona, descrita como existindo na parede anterior da vagina, não está cientificamente demonstrada como uma estrutura precisa e individualizável. Nem todas as pessoas com vagina o sentem da mesma forma. 

O clítoris, que está localizado na vulva, é constituído por várias porções que envolvem a porção inicial e infra-uretral da vagina e que se estendem em profundidade nos grandes lábios. Isto explica porque durante a resposta sexual há uma grande interligação de todas estas estruturas. A vulva e a vagina funcionam de uma forma una durante a resposta sexual. 

Pessoas com vulva e vagina.

Para além da diversidade física é importante falar da diversidade de vivências das pessoas com vulva e vagina. Entre elas existem mulheres cisgénero, pessoas não binárias, pessoas trans e intersexo. Entre si, em comum, a existência destes órgãos. Muitas vezes em comum, também, as dúvidas e as dificuldades. 

Desafio-vos, então, com algumas questões para chegar à resposta:

. Qual a imagem de uma vulva perfeita?

Na tradição japonesa, os pequenos lábios em «forma de borboleta» (pregueados e salientes entre os grandes lábios) eram considerados particularmente atraentes. Na tradição maori (Nova Zelândia) eram considerados «belos» os grandes lábios volumosos. No Norte de Moçambique, na região de Tete, pratica-se o alongamento dos pequenos lábios desde a infância, numa forma que se considera de «embelezamento». Em várias sociedades pratica-se o corte dos genitais femininos por diferentes razões, mas com frequência está associado à representação de pureza e passagem ritual para a idade adulta. Ou seja, a «vulva perfeita» tem de passar pelo corte.

Na maioria das imagens a que acedemos, actualmente, vemos uma vulva com grandes lábios pouco volumosos, entre os quais são visíveis pequenos lábios finos, pouco recortados, simetricamente alinhados, e um pequeno botão que é o clítoris. Mas que é apenas uma entre as muitas variações possíveis.

. O conceito do «perfeito» como uma imposição ou um ideal a ser atingido?

Como muitas das pessoas com vulva não vêem outras vulvas, a sua única referência são imagens esquemáticas, com photoshop ou de pornografia. Cada pessoa com vulva, quando se compara com estas imagens, pode sentir-se confortável ou desconfortável. Segura ou insegura.

A sensação de insegurança está muitas vezes associada à ideia de se sentir «diferente». Associada ou não ao receio sobre a «normalidade» da sua vulva (genitais), seja devido à sua forma, à dimensão, à coloração ou até assimetria que possa existir.

É, em nome destes conceitos e preocupações, que em vários países têm aumentado o número de cirurgias de embelezamento e rejuvenescimento da vulva e da vagina. Muitas vezes realizados por se desconhecer esta diversidade.

Vulvas e vaginas perfeitas, existem?

Tal como cada pessoa é uma pessoa, cada vulva é uma vulva e cada vagina é uma vagina. Todas diferentes. Sem a pressão de serem perfeitas.

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